de Ticiana Vasconcelos Silva
E Deus penetrou a matéria
Como uma águia penetra o céu
Como uma vida absolvida de um réu
Como a língua embevecida no mel
E fizeram-se preces
Na pressa de ir ao altar
Na lua que viu o mar
No beijo de um santo solar
Pois Deus é a cidade
Que arde por entre véus
E grandes potestades
Que parte a glória em coragem
Que vai pela luz da saudade
Que divide o cedo em tarde
E há ainda a vaidade
Porém bela e sem fealdade
Como o símbolo da verdade
Como o adeus sem piedade
Pois sabemos que Ele é o sinal
De uma porta sem final
De uma régua diagonal
De uma breve gota astral
E nos faz como mansos
No acorde de um canto
No norte de um quebranto
Na sorte de um amor real
E assim nos despimos
De risos e cinismo
Para irmos ao abismo
Que traz o voo da vida
E à subida da eternidade