Fui arrancado a fórceps. Hoje entendo porque não queria sair. Ficou a marca No cabeção achatado atrás. Se embalsamado, daria uma mesa para acomodar oito pessoas. Eu ficaria olhando por baixo, para ver o que sempre acontece por ali no trançar de pernas. Meus olhos foram treinados. Já me apelidaram de águia. Sempre gostei. Porque vejo além, mas sempre é muito confuso. Por isso só fico urubusservando, com a entrada fechada, lacrada. Quando tentei abrir as portas da percepção, o que veio parecia a síntese de um livro de Martin Cruz Smith sobre ratos com asas. Lembro que estava cortando o país de cima pra baixo e tomando porres felomenais por aí. Lia no trajeto, quando sóbrio. Numa das paradas, ao voltar para o ônibus, vi, bem no meio do para-choque dianteiro, ele, pregado de asas abertas, como um cristo com os dentinhos de fora: o morcego. O que seria isso? Dentro da barriga da santa talvez tudo isso tenha entrado de alguma forma e sem eu perceber – só sentir. Não querer sair era um direito meu, mas não deu tempo de contratar um bom advogado.