Diálogo entre dois ex-pacientes do Bom Retiro e do Pinel:
– Se a coisa continuar assim, tudo vai se acabar.
– Calma!
– Eu já tive muita calma na vida.
– O tempo que fiquei mais calmo foi quando fui internado e me entupiram de boletas.
– Eu também. Mas depois continuei assim em casa.
– Eu dormia e babava.
– Eu também só babava… O pior é que, pensando bem, a gente era feliz e não sabia.
*Os protagonistas da conversa: Solda e Zé Beto
Doídos são os que não aceitam premissas ideológicas de alienação. Doídos são os que respiram a liberdade de poder expressar suas loucuras ao seu modo.
Enxergar a vida o mundo por várias óticas e ter opção de escolha.
No fundo os normais estão enjaulados consciente e inconsciente, através de crenças e valores.
Este sistema artificial de controle distinguem e discriminam os que pensam de forma contrária às regras da opressão. Olhamos às forças do rio, e não percebemos às margens que oprimem
o Solda, no Bom Retiro, foi pra perto do portão, junto a calçada da Nilo Peçanha.
Assim que que passou o primeiro pedestre, ele perguntou:
– ei, tem muito louco aí dentro?
Zé, você sabe que durante 15 anos estivemos bem pertinho dali – do outro lado da rua, na realidade, de frente para o muro lateral do Bom Retiro. Começamos a reforma da Família Sfiha em dezembro de 2014 e em abril de 2015 começamos a atender. A gente conhecia os clientes pela expressão do rosto, que revelava a dor e a angústia da visita que acabavam de fazer aos familiares internados. Uma vez presenciamos a fuga de um deles, que pulou o muro e fraturou a perna ao cair na calçada. Também atendíamos os profissionais que trabalhavam lá, até que o Hospital foi desativado. Uma única vez entrei no prédio, para ajudar um amigo cuja esposa precisava atendimento, e aí lembrei do avô do querido Marcos Isfer, o “seu” Habib, que deu o nome à uma das alas do Sanatório, pelo qual ele tanto lutou, na condição de benemérito da Federação Espírita.