por Thea Tavares
O ano de 2020 já começou tocando o “foda-se”, com o perdão da palavra, mas ela é a que melhor descreve a situação. Nos dez primeiros dias, nosso noticiário já estava abarrotado com todos os males do mundo. Tivemos uma quase nova guerra mundial, a queda de um avião comercial com 176 pessoas, derrubado por míssil “equivocado”, no bojo desse pânico todo do conflito, cachorros mortos em furgão fechado, em meio a um calor insuportável, fora os alagamentos, desmoronamentos, nuvens de incêndios florestais que atravessam oceanos, as perseguições e mortes no campo e nas aldeias indígenas…
Pela internet e grupos de aplicativo de mensagens, a insegurança só aumentou com a disseminação de informações que alertam que as fezes do pombo matam, que uma tal cerveja intoxicada andou despachando a galera desta para o além, sem dó nem piedade, depois do festerê e toda sorte – ou azar – das patacoadas governamentais que fazem aniversário neste mês para desespero geral da nação. Isso é só o que a memória alcança assim de supetão, pois tem notícia ruim – é até pleonasmo dizer – aos montes e pra tudo quanto é tipo de deleite.
Vamos combinar que não foi por falta de reflexões, de preces, exames de culpa e de consciência ou planos humanitários traçados no final do ano para atrair boas energias e bênçãos ao Planeta. Vínhamos, como é costume, nessa vibe letárgica, imersos em abstrações e projeções, avaliações diversas e planos para mudança de comportamento, promessas inalcançáveis, orações, simpatias, superstições, pajelança, reafirmação de laços e compromissos para salvar o mundo e resolver todas as demandas particulares. Para muita gente não poderia faltar lentilha na mesa durante as festas de fim de ano, romã, bolinho de arroz, sem esquecer de colocar assim e assado tantas uvas na taça antes de beber, bem como escolher a cor da roupa, pular onda, enfim, não foi por falta das tradicionais e mais variadas manias desse período, que visam supostamente ajudar na emissão de vibrações positivas para o universo e para si.
Ah! Sem contar o desejo quase desesperado, a julgar pela maioria das manifestações a esse respeito, lidas e ouvidas por aí, de que 2020 viesse melhor que 2019. Ainda estávamos cumprimentando as pessoas com votos de “feliz ano novo” e postando imagens de momentos bons e de lazer nas redes sociais, quando os velhos problemas da sociedade nos tomavam de assalto, quase que ao mesmo tempo e descarregando tudo de uma vez só. Meio que chamando a gente de volta à realidade e espinafrando: fica esperto!
Como bem diz a letra daquela canção, fruto da parceria histórica de Aldir Blanc e João Bosco, em um dos mais promissores encontros da MPB, “não há nada de novo no ano novo”. E é até bem oportuna a citação dela, uma vez que estamos, novamente, sofrendo de uma espécie de obsessão pelo futuro, em resposta às amarguras que se apresentam para cercear nossas liberdades individuais e coletivas. Juro que o intuito aqui não é o de baixar o astral de ninguém, mesmo porque a consciência crítica, a reflexão e a análise dos fatos sempre funcionaram como pontos de partida para uma ação transformadora. Sermos sujeitos de uma história requer necessariamente conhecer a realidade e contestar fórmulas ultrapassadas. Sob pena de continuarmos declamando todos os anos a mesma ladainha da ausência de novidades e de sorte.
Ainda que as notícias não tragam muito alento, o ano já começou acelerado e nos convida a segurarmos todas estações nos dentes.
O ano ainda está por vir. Faze lo melhor depende de nós. Mas, sempre o mas, o povo não compreendeu que somos reféns das políticas, dos políticos, principalmente, quando não se tem reflexão. Este ano iremos escolher o que mente melhor, vende a ilusão de anos prósperos, assim como se fosse o ano novo.
A máquina pública está nas mãos do senhor Rafael Greca, e irá fazer uso deste instrumento, sem parcimônia, sem limites e continuar plantando na mente do povo que anos melhores virão….para quem?