por Mário Montanha Teixeira Filho
Não sou dado a manifestações – grandiloquentes, afetuosas ou o que seja – que inspiram o assim chamado ano novo. Na minha juventude, que vai longe, a implicância com a data era explícita. “Não há novo ano após o 31 de Dezembro”, escrevia o menino que fui, inconformado com o cotidiano injusto que me cercava (e que nunca deixou de ser injusto, transcorridos tantos anos), “mas apenas a passagem do tempo, cruel, fatal e inexorável”.
Compreendo, hoje, a celebração. Não a coloco entre as prioridades da minha existência, mas a tenho em conta e procuro reconhecer a sua importância como marco de renovação, esperança e coisas assim. Conciliei-me reservadamente com esse tipo de convenção social, sem me transformar em entusiasta das festas. Daí a minha omissão, talvez confundida com falta de cordialidade, em desejar coisas boas às pessoas que amo nos períodos em que a humanidade brinda os seus valores.
Essa reflexão me vem poucos dias depois de rever os amigos da minha infância. Amigos de sempre, que nos espalhamos por alguns cantos do planeta em convulsão, que nos perdemos e nos encontramos em fases distintas da vida, e que agora estamos tão perto e tão cheios de lembranças que nada nos fará distantes. Deles retiro a beleza ferida pelo cotidiano insensível, pelos padrões impostos pela modernidade tecnológica, pela hipocrisia fanática dos moralistas, pelas palavras grosseiras dos autoritários, pelo dinheiro, pelo egoísmo. A “beleza que existe”, maior do que a tristeza, feita do amor universal, que nos faz seguir.
Feliz ano novo, então, digo ao mundo-vasto-mundo, para que possamos vencer a barbárie e realizar o futuro.