Da FSP
Morre Antônio Guerreiro, fotógrafo de belas mulheres e dos anos de ouro do Rio
Artista estava internado desde o começo do mês para tratar um câncer
O fotógrafo Antonio Guerreiro morreu neste sábado (28), aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado na Policlínica de Botafogo para tratar um câncer desde o começo do mês.
Nascido na Espanha, Guerreiro se mudou para o Rio ainda criança e lá estudou economia. Mas acabou seguindo carreira de fotógrafo, ganhando projeção entre os anos 1960 e 1970 com suas imagens de celebridades estampando as principais revistas do país.
Sagrou-se retratista de renome ao clicar personalidades do universo artístico, como Sônia Braga e Gal Costa, e chegou a ter sua obra censurada durante a ditadura militar. Foi correspondente da revista Manchete em Paris e manteve um estúdio ao lado de David Zingg e Eduardo Clark.
De acordo com Rubens Fernandes, pesquisador da área de fotografia, Guerreiro surgiu em um período fértil para a fotografia no Rio, ao lado de nomes como Luiz Tripolli, Pedro de Moraes e Luiz Garrido, inspirados pelo filme “Blow Up – Depois Daquele Beijo”, dirigido por Michelangelo Antonioni em 1966.
“Seguramente o Antonio é fruto dessa geração, em que a fotografia ganha uma ressonância diferente do que tinha anteriormente. Não era uma obra de denúncia ou com muita produção, mas uma fotografia como registro do cotidiano”, diz Fernandes.
O pesquisador também ressalta a importância do estúdio de Guerreiro no Rio, que em plena ditadura se tornou um centro cultural. “O estúdio dele era um local de transgressão, porque ele tinha um espaço grande e acolheu muitos espetáculos de teatro, performances, shows, tornando o estúdio um lugar de combate e resistência.”
Amigo de Guerreiro, o também fotógrafo Luiz Garrido destaca sua produção centrada em figuras femininas, muitas vezes nuas. “Ele conseguia fazer todas as mulheres lindas e supercharmosas. Esse era o seu estilo”, diz.
“Eu dizia para ele: ‘Antonio, como você consegue fazer essas mulheres lindas?’ E ele dizia para mim, ‘como você consegue mostrar os personagens por dentro?’. Então tivemos a ideia de misturar as fotos dele, superglamurosas, com as minhas, mais críticas”, relembra. “Foi assim que surgiu a exposição ‘Garrido x Guerreiro’, que ficou pronta, mas ele não vai poder ver quando for exposta.”
“Espero que ele tenha levado a máquina para continuar seu trabalho onde possa estar, que monte o seu estúdio nas nuvens e continue a fotografar”, emenda.
Também colega de profissão, Bob Wolfenson resume Guerreiro como o fotógrafo que personificou o filme “Blow Up”, com sua imagem de “playboy, bonitão, que andava com as mulheres”. “Tinha um espírito leve”, diz.
Guerreiro deixa a mulher, Teresa Freire, com quem estava casado há cerca de 20 anos, e uma filha, fruto de um relacionamento anterior, com a atriz Angelita Feijó. Entre suas antigas parceiras também estão Sônia Braga, Sandra Bréa e Denise Dumont.
O velório acontece neste domingo (29), das 9h às 11h45, no Memorial do Carmo, na zona norte do Rio. Seu corpo será cremado em seguida.