Ganhei a sineta de recepção de hotel antigo. Se foi roubada ou doada, não sei. O som vai além da imaginação, como na série do tempo em que havia um tubo atrás da telinha. Na hora em que a toquei, aconteceu. Incorporei um personagem de filme. Ainda bem que não era o maluco de Psicose. Mas chegava perto. Estranho, no mínimo. Tive certeza disso quando, horas depois, estava para entrar no box do chuveiro. A mente, o corpo, o olhar, o andar, tudo do outro estava comigo. Onde eu fui parar, não sei. Até minha barriga caída sumiu, coisa que gostei. Abri a torneira fria para ver se aquilo sumia com a ducha, apesar de estar gostando. Claro! O sujeito me impressionou demais, principalmente por pensar de uma forma fora do beabá comum – e interpretar o real como se estivesse olhando a curva do vento e recebendo mensagens codificadas. Depois do banho, voltei para meu canto e fiquei olhando a sineta. Como ele deveria estar olhando. Toquei-a de novo. O som saiu pela janela e espantou alguns pássaros que estavam nos fios elétricos da rua. Voltei! Com as dúvidas de sempre. Agora sei quando a coisa apertar na alma. Chamo o tal, que deixa sem resposta quem ousa discutir suas teorias. Plim!