Eu gosto dos devagares
Mas também dos ares
Calamitosos, mal cheirosos
Perigosos
Gosto dos descompassos
Dos astros a perder de vista
Das moscas nas esquinas
Das agulhas ágeis
Gostar de ser comum
Para nunca ser algum
Que crê na sua própria imagem
Gosto das gorduras nos papéis de tintas
Rasgados pelo ódio ao mal amado
Cavo ideias nas paredes
Com a minha rede ao luar
Nada é menor que a ideia
De uma alma a se enamorar
Da própria alma a encontrar
Sou gramatical no drama
E dramática na grama
Crio mundos rasos
Para aprofundar a luz
Pinto muros altos
Pela obra que me conduz
Gosto do que gosto
E o desgosto não me convém
Desdém é mero teatro
E meu ato é de ninguém