por Claudio Bernardes, na FSP
Índice com 102 localidades tem Singapura no topo e São Paulo em 90º e Rio em 96º
As cidades inteligentes não são mera fantasia futurista. Elas são projeto real em andamento em várias cidades do mundo. E por que uma cidade deveria engajar-se nesse processo e se tornar inteligente?
Em primeiro lugar, é importante compreender os horizontes que envolvem o planejamento e a operação das cidades inteligentes. Sua função principal é estruturar formas de lidar, de maneira competente e eficaz, com os desafios aos quais as pessoas das áreas urbanas são submetidas. Para isso, essas cidades devem utilizar tecnologia e modelos que as tornem efetivamente inteligentes, ou seja, com capacidade de compreender ideias complexas, de assimilar conhecimentos rapidamente e de aprender com a experiência.
Dessa forma, as cidades se tornam inteligentes para resolver problemas e aprimorar soluções que envolvam questões urbanas, como resiliência climática, desigualdades sociais, saúde, educação, mobilidade, segurança e tantos outros aspectos com os quais os moradores das cidades convivem.
Contudo, mesmo compreendendo a importância da inteligência nas cidades, é muito difícil avaliar seu desempenho e, com base nisso, propor as melhorias necessárias se não existirem indicadores eficientes para captar seu funcionamento e servir de base para essas avaliações.
Por essa razão, como resultado da cooperação entre o IMD (Institute for Management Development) e a Universidade de Tecnologia e Projeto de Singapura, foi criado o SCI (Smart Cities Index), um índice que mede a eficiência da inteligência das cidades, por meio de 15 indicadores associados a cinco áreas prioritárias: Saúde e Segurança, Mobilidade, Atividades Urbanas, Oportunidade (trabalho/estudo) e Governança.
A primeira edição do índice, publicada após dois anos de trabalho pesquisando 102 cidades no mundo, procurou captar a percepção de residentes, escolhidos de forma randômica, quanto a infraestrutura e tecnologia associadas às cinco áreas prioritárias e disponíveis para os serviços à população.
As dez cidades que estão no topo do ranking são, pela ordem de classificação, Singapura, Zurique, Oslo, Genebra, Copenhague, Auckland, Taipei, Helsinque, Bilbao e Dusseldorf.
Das cidades brasileiras entre as 102 pesquisadas, estão São Paulo, ocupando a 90ª posição, e Rio de Janeiro, no 96° lugar. Seguramente, esse resultado serve de alerta para repensarmos nossa posição com relação às diretrizes e ao planejamento para estruturar cidades inteligentes no país, se é que eles existem. Em valores que variam de 0 a 100, na média dos 15 indicadores temos, por exemplo, para Singapura, o índice de 70,4 e para o Rio de Janeiro, o de 35,8.
Há muito o que fazer ainda nas cidades brasileiras para torná-las inteligentes. Para começar, cada uma deveria ter um projeto adequado às suas especificidades físicas territoriais, sociais e financeiras. Ao mesmo tempo seria necessário um planejamento cronológico coerente, para que elas sejam capazes de caminhar na direção da modernidade, mesmo que em uma velocidade menor, mas com consistência e direção correta. Em projetos como esses, indicadores e monitoramento são requisitos fundamentais para o sucesso a médio e longo prazos.
Os responsáveis pela criação do SCI pretendem continuar com as tabulações dos índices, por meio de verificações sistemáticas, fazendo os ajustes necessários e aumentando significativamente o universo das cidades pesquisadas, mas sempre priorizando a opinião dos cidadãos e dos atores locais.
O SCI pode mudar a forma como a inteligência das cidades é mensurada, não estritamente pelos avanços tecnológicos, mas pela percepção dos cidadãos sobre os resultados do uso da tecnologia. Esperamos que essa ferramenta de análise possa se transformar num importante instrumento de indução a uma vida melhor para os moradores das cidades, sejam elas mais ou menos inteligentes.