17:01Sem brinde

De Patrícia Iunovich

Há dias em que os pesares são mais profundos e nos consomem de comiseração, como no caso das balas perdidas, das guerras não escolhidas e destroçadas em ataques, na estupidez. Há dias em que não há forças para sair da cama. Mas aí eu me esforço a ligar o rádio, ainda aquele de pilha, que fica na cabeceira, e coloco uma música. Paro na estação que aplaca a minha ansiedade. A canção começa a reverberar poesia. Observo o palco. Procuro uma luz. Acendo velas. Rezo mesmo sem acreditar em Deus. Peço que ele cuide dos pobres meninos e homens e mulheres feitos que como eu não atingiram maturidade. Não encontrei esperança. Volto para o meu mais profundo escuro. Procuro uma imagem, uma foto, um livro, um filme, uma série. Uma narrativa que possa me fazer compreender tantos porquês. Não há nenhum sinal. Vou abrir uma garrafa de espumante. Não para brindar; apenas para não morrer hoje. Amanhã quem sabe.

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