No ponto de ônibus. Perto, imagino que a conversa entre dois moleques que vejo seja “ele saiu de casa achando que iam matar ele”. Nunca saí de casa, mas já tive muito pressentimento de que iam me apagar. Chamam isso de nóia. Eu digo pra mim mesmo: “uma pinóia!” Só eu sei as esquinas por onde andei. Viva Djavan! Vou de busão. Seguro no bolso o cartão de alimentação da empresa. Às vezes penso que alguém vai querer me tirar para aproveitar o grude de dez pilas por dia. Alguém abre um vidro, apesar do tempo frio. O vento parece limpar as impurezas da minha mente. Relaxei e vi coisas bonitas passando nas janelas. Uma menina bonita, um TL verde e inteiro, dono feliz da vida ao volante. A copa de uma árvore toda florida de roxo, o velhinho passeando com o cachorro… Ele olha pra mim e sorri. Parece que me passou toda a vida dele. Nunca parou. Fez o que tinha de fazer – e faz. Não sei o quê, mas eu também não sei direito o quê da minha até agora. Só que preciso ficar suave na nave.