De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário
AUDIÊNCIA na Justiça, coisa aborrecida, no geral inútil. De dez, uma se aproveita; quando acontece, é jogada de advogado para fazer média com o cliente, mostrar serviço, justificar perda de causa, dividir a responsabilidade pelas testemunhas escolhidas. Hoje tem processo pela internet, pode-se trabalhar de casa, de pijama, entrevista com o cliente pode ser no café, no lobby do hotel, até no bar, no restaurante. Trabalha-se com calma, relaxado, conheço alguns que nem tomam banho.
AUDIÊNCIA EXIGE terno, gravata, barba feita, o decoro mínimo. E a perda de tempo de ir ao foro, esperar, acompanhar o juiz a corrigir erros de digitação do secretário, mandar refazer tudo. É comum, muito comum, enfrentar as bravatas, a conversa fiada do outro advogado. O calor, o sufoco da gravata, o juridiquês medieval nada são perto da tortura da volta: o cliente vem junto, o bombardeio de perguntas à espera da resposta impossível sobre o resultado da causa.
UM DIA, raríssimo dia, o advogado é premiado pelo inesperado. O feliz acaso, o aviso – um em cem – de que a audiência não vai acontecer. O prazer de “trocar o baixeiro do foro pelo baixeiro de casa”, dizia meu mentor, advogado da roça, quando poupado da audiência ou dela voltava: despojava-se do terno, gravata, sapato e ia para a fazenda. Bombacha e chinelo, selava o cavalo, sem esquecer o “baixeiro” da metáfora, a manta que protege a coluna do animal da bunda do cavaleiro.