9:14Show de racismo e insensatez na Câmara é prova de retrocesso civilizatório

por Bruno Boghossian

Eleição deu megafones àqueles que preferem comportamento

As últimas eleições colocaram megafones nas mãos de gente que não tem vergonha da própria insensatez. A disputa que consagrou aqueles que “falam o que pensam” parece ter dado um salvo-conduto a alguns políticos que se alimentam de um comportamento selvagem e de impropérios animalescos.

O espetáculo indecente protagonizado por um grupo de deputados na Câmara nesta terça (19) é mais um sinal de que o país se lança num retrocesso civilizatório –e há disputa para saber quem será o passageiro mais desvairado.

O deputado Coronel Tadeu (PSL) pediu que um assessor gravasse o momento em que ele arrancava da parede uma placa exposta num dos corredores do Congresso. A imagem mostrava um homem negro algemado e morto diante de um policial, que andava com uma arma fumegante.

O parlamentar certamente não gostou da referência que o cartaz fazia ao “genocídio da população negra”, associado à PM. Em vez de protestar como qualquer ser humano, atirou a placa ao chão e partiu ao meio. Depois, publicou um vídeo nas redes sociais para se vangloriar.

O coronel foi aplaudido por um especialista no assunto, o deputado Daniel Silveira (PSL). Na campanha de 2018, ele quebrou uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL).

“Há mais negros com arma, mais negros cometendo crime, mais negros confrontando a polícia, mais negros morrem”, afirmou. “Não venha atribuir à polícia mortes porque um negrozinho bandidinho tem que ser perdoado”, completou, pedindo que o show de racismo fosse reproduzido no rádio, na Voz do Brasil.

Não fossem esses digníssimos senhores responsáveis pela elaboração de políticas de segurança pública e pela fiscalização de atos dos governos, eles poderiam ficar reduzidos à própria ignorância. Mas suas palavras provam que, no coração do poder, estão pessoas que fingem não enxergar as vítimas inocentes e a desigualdade racial dramática do país. É assim que se anda para trás.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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