9:20A Esfinge

por Fernando Muniz 

Ela toma conta do quarto. Flutua feliz, a exalar um odor cativante, de flores belíssimas, nascidas entre as pernas e seios, a pairar sobre a cama e móveis, vinda do céu noturno sobre o quarto sem teto. Sorri, sabe-se lá por qual motivo. Tento alcançá-la com os dedos, não, quero beijar suas flores, porém, extasiado por tudo aquilo e principalmente pelo ar cálido e doce em volta daquele vulto, estendo os braços, mas não a alcanço; tento pular ao seu encontro e não consigo sair do lugar. Não sei como fazer para estar junto dela, entre suas pernas, próximo ao seu ventre florido.

Um vento forte varre o quarto, levando as flores embora e ela se dissipa noite afora, para muito além de onde estou, levando junto seus mil anos de sabedoria.

Tento gritar, quero me esgoelar, porém som algum sai de mim e, por isso, largo-me ao léu, absorto na minha incompreensão, feita de poucas dúvidas e muitas certezas, envelhecidas, que sugam a minha juventude, tornando-me uva passa, carcomida pelo barulho do vento que não para de martelar o meu ouvido.

Certezas que me afastam dela.

Temo que para sempre.

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