Tentei ser cruel. Era a derradeira tentativa para ela parar de fumar: “Entre um quindim, um pudim de leite feito pela sua tia… e um cigarro, você fica com o quê?” Ela não precisou responder. Completei: “Tá certo! Depois vai tossir para comemorar, né?” Era. Lembrei do avô dela fumando Continental sem filtro. Lembrei do tempo em que minha turma de moleques colecionava embalagens de marcas de cigarro. Dos filmes americanos no Cine Dom Bosco, lá na vila. Bogart e Bacal flutuando na fumaça que engoliam e soltavam na cara de todos nós. Era o máximo! Na primeira tragada que dei, parei. Depois fumei o fedido, a tal de maconha. É o que digo para quem pergunta se continuo. Não! Já vi gente fumando pela buraco da traqueostomia. Já soube de outro morrendo queimado no quarto do hospital porque queria espairecer com o maldito. Já vi gente fumando durante o período de tratamento quimioterápico depois da cirurgia que extirpou seios. Acompanhei um senhor dono de apenas pulmão lamentando o tempo em que deixava toda a roupa que vestia fedida – e agora não consegue dar dois passos sob risco de colocar os bofes pra fora porque a fumaça maldita fez desaparecer o outro pulmão. Desliguei o telefone e fui comprar um quindim e um pudim de leite na padaria. . Alguém do outro lado da linha aproveitou para ir até a janela do apartamento e acender outro. Deve ter pensado: “Quindim! Veja só. O véio é louco mesmo!”