por Claudio Henrique de Castro
*Artigo publicado no dia 15 de fevereiro de 2016
Muitas pessoas se manifestam a favor da “Operação Lava Jato”, numa postura politicamente correta e numa demonstração de que são contra a corrupção deslavada que assola o Brasil.
Um louvável movimento no Paraná distribuiu adesivos de apoio à operação da Polícia Federal, em curso na Justiça Federal.
Dias atrás observei um veículo cruzar o sinal vermelho em alta velocidade – o adesivo de apoio estava colado na traseira. Observei motoristas que dirigiam e falavam ao celular e outros que arremessavam a bituca do cigarro pela janela, com o mesmo adesivo. Claro que isto não significa que os que colam o adesivo agem assim.
Também flagrei um casal que conversava sobre corrupção enquanto seu cãozinho fazia suas necessidades na calçada e eles, de forma discreta, se retiraram impávidos, sem juntar a sujeira canina – mas bradando contra os corruptos.
Num restaurante, diante da fila de espera de vinte pessoas, alguns privilegiados passavam ao lado com a maior tranquilidade, saltando para a frente dos reles mortais e, ao sentarem à mesa, começaram a conversar sobre a corrupção no país (…), contou-me depois o garçom.
Falta-nos a transformação em nosso cotidiano, em nossos pequenos atos e ações do dia-a-dia.
No andar de cima, no Congresso Nacional, deputados federais e senadores fazem caras de assombro ao falarem de corrupção: “É um absurdo!”; “Uma barbaridade”; “Devem ser presos, imediatamente!”.
No início de fevereiro deste ano a Câmara aumentou a verba de Gabinete, para contratar funcionários, de R$ 78 mil para R$ 92 mil, além do reajuste da cota parlamentar de 8%.
Em 2015, apenas 3,7% dos deputados federais compareceram a todas as sessões da Câmara. Se fosse uma Escola, a maioria estaria reprovada.
A escalada das denúncias parece não assustar os dirigentes do país – ao contrário, os incentiva a cometerem desatinos.
Mais da metade dos deputados federais (53,2%) e dos Senadores (55,6%) são citados pela Justiça e pelos Tribunais de Contas.
Dos senadores, 23,5% são concessionários de rádio e TV, isto é, são os donos da opinião pública brasileira, sendo que a maioria é de ruralistas (29,6%). Na câmara federal também imperam ruralistas, cerca de 22,4% (in www.excelências.org.br).
Em resumo, os donos do Brasil são “contra a corrupção!”
Na antiga Roma, Cícero narra a história de um médico que furtou ouro e moedas de um armário, através de um orifício feito com serra dentada dos dois lados. Um amigo da vítima lembrou-se que tempos atrás vira uma serra de diminuto tamanho em meio aos bens. Consultados os registros dos pertences verificou-se que o médico era o dono do pequeno instrumento, – foi encarcerado.
Moral da história: “As aparências enganam.”
Ainda vivemos a hipocrisia institucional do “rouba mas faz”, do “sempre foi assim”, do “uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto”, do clientelismo, do fisiologismo, do “toma-lá-dá-cá”.
A solução para esse grande bloco de sujos é, para começar, numa profunda separação entre o público e o privado e, num segundo e glorioso momento, a exemplar punição de todos os envolvidos, sejam eles quais forem.
Verdade verdadeira. Questão cultural (ou descultural) nacional.78 sai candidato a prefeito da minha Sanzabel mesmo morando em Curitiba. Para atender o MDB de lá (ô arrependimento) e ajudar o candidato da legenda. Mas a campanha desandou a crescer. Numa esquina, um cidadão pai septuagénario, pai de prole (detesto prole e septuagenário também). E ele me recomendou: Óia, Parrerinha, se você chegar lá, aproveita prá arrumar a sua vida…