por Thea Tavares
A vida se torna mais leve à medida em que compreendemos e aceitamos os efeitos da natureza humana sobre os acontecimentos. Não que isso justifique, banalize ou desculpe todas as situações, mas é importante perceber nos momentos mais corriqueiros quando essa natureza humana grita e sai de dentro da gente para se materializar em palavras, gestos, decisões e reações. A percepção é educativa e retira das situações aquele peso desnecessário e motivador de atritos por incompreensão ou pela supervalorização das coisas. Mas atenção! O tema aqui é a natureza humana e não o instinto animal de sobrevivência, a lei do mais forte, que cada um possui em grau mais ou menos acentuado.
O mundo fica muito chato, reativo e agressivo quando o excesso de moralismos, intolerâncias e de pré-conceitos turvam nossa visão para o encantamento da descoberta das pessoas e do contexto em que elas vivem. Fiquei intrigada, certa vez, em conhecer a origem do nome de um rapaz. Ele abriu um sorrisão, meio moleque e meio desconfiado, para explicar que era o mesmo nome do médico que atendeu a mãe dele na maternidade. Além de atencioso profissional, contou que a mãe achou o doutor extremamente bonito! E foi assim que ele ganhou o nome que tem: por causa da beleza do médico. Que bacana isso! Todas as vezes em que ele contar e recontar essa história, de preferência longe do pai, vai sorrir e encantar as pessoas com a singeleza da narrativa e da escolha da mãe.
Tem natureza humana berrando também nas vaidades nossas de cada dia, conectadas às nossas mais íntimas ambições e desejos. Do ambiente profissional às relações sociais em geral, vamos perceber a vaidade denunciando orgulhos, inseguranças e outras fragilidades. Daí, vai de cada um de nós aprender a lidar com cada eventualidade e indivíduo. É um aprendizado que fortalece nosso diferencial de sermos humanos, ou seja, a capacidade de raciocínio e de reflexão para a definição da mais adequada tomada de decisão.
Façamos um favor a nós mesmos e vamos observar com cuidado e paciência os traços da natureza humana na nossa vivência cotidiana. Separar nas situações o que nos motiva a reagir, responder, o que é prejudicial e desarmoniza a vida em sociedade e o que nos fará sorrir com leveza, desmontando a tensão em volta, para espanto geral da Nação. Não lembro ao certo se foi em um desses cursos motivacionais ou na sequência de um filme que ouvi a seguinte orientação: seja para entrevista de emprego, banca de defesa de trabalho acadêmico ou qualquer outra situação que envolva eliminar o pânico e diminuir o próprio nervosismo diante de uma ocasião de intimidação ou de abuso de autoridade, deveríamos imaginar a pessoa que naquele momento nos imobiliza sem as suas roupas. Tal visão – medonha, por sinal, na maioria dos casos! – afastaria imediatamente nosso desconforto com o episódio em questão e nos empoderaria de segurança e altivez necessárias para vencer os obstáculos.
É da natureza humana ainda sentir medos, inseguranças, mas também é dela que nos vêm as forças transformadoras da nossa realidade. Se estas palavras fazem algum sentido a você e de alguma forma elas podem ser assimiladas no pragmatismo da sua vida, faça um bom proveito! A ideia era que impressões tão simplórias e particulares assim funcionassem como uma espécie de “horóscopo de jornal”, cujas as previsões servem para qualquer pessoa, de qualquer signo do Zodíaco, em qualquer época do ano e lugar. Mas cada uma que ler, vai encontrar significados e encaixes precisos, que casam direitinho com o que se vive aqui e agora. Aí, entra em cena outra expressão do senso de oportunismo humano: inventar uma forma de ganhar dinheiro com essa habilidade. É ou não é?
Recentemente, muito recentemente, aliás, e a julgar pela natureza da função, a intenção de se faturar sobre a inventividade e a notoriedade alcançadas perdeu a espontaneidade vaidosa da natureza humana para extrapolar para algo passível de responsabilização criminal. A linha que separa uma coisa da outra, muitas vezes, é tênue e imprecisa. No caso em questão, não. É explicita e escandalosa. Ainda assim, poderá ser naturalizada. Ou não?