por Mário Montanha Teixeira Filho
O juiz ladrão é uma imagem popular no mundo do futebol. Tradicionalmente, ela remete a homens vestidos de preto, com apitos na boca e a (má) intenção de proteger o time da sua preferência – ou do seu patrocínio subterrâneo. O juiz ladrão é o juiz parcial, interessado na produção de resultados concebidos previamente em sua cabeça. Na atualidade dos avanços televisivos e das dezenas de câmeras instaladas em torno dos gramados do jogo, a atuação de suas excelências, os árbitros, passou a ser fiscalizada como jamais se poderia imaginar no passado.
Era preciso aperfeiçoar a ladroagem, há algum tempo preocupada em revestir de legalidade os seus excessos. Para isso, veio o VAR, uma tecnologia avançada e supostamente capaz de realizar uma das metas da sociedade moderninha: a objetividade absoluta, a eliminação do “erro”, o triunfo da inteligência artificial, seja lá o que isso queira dizer. O VAR que está aí, a contribuir com a mecanização de um esporte alimentado pela paixão – o que o torna cada vez mais aborrecido –, nada mais é do que uma espécie de força-tarefa a serviço do juiz soberano.
Força-tarefa investigadora e juiz, unidos em torno de um objetivo comum, cercados de aparelhos audiovisuais de última geração, se transformaram num ser complexo. No mundo mercadológico de hoje, não cabe mais o apitador de roupas sóbrias, personagem secundário, triste e marginal dos jogos de antigamente. O juiz se vestiu de cores, deu um trato na aparência, encheu-se de músculos e se preparou para cumprir o papel de mensageiro da verdade, a verdade do VAR.
Transporto essas reflexões breves para jogo recente entre o CAP (ou Atlético sem o agá petragliano) e o CRF (Flamengo, detentor da maior torcida do Brasil), terminado em 1×1. O juiz ladrão deixou rastros por lá. Primeiro, ao ignorar uma saída de Diego Alves, goleiro flamenguista, que, fora da área, interceptou com a mão uma bola cobiçada pelos pés de Marcelo Cirino, atacante paranaense que se preparava para fazer o gol. Pela regra, falta. Pela regra, expulsão de Diego. Para juiz e bandeirinha, nada. Para o VAR, nada.
A festejada parafernália instrumental, operada por profissionais da arbitragem, identificou o equívoco. Mas os membros da força-tarefa, atentos à vontade do “sistema”, não pareceram empenhados em corrigi-lo. Guardaram energia para o que os esperava na sequência: pênalti sobre Cirino – ele, outra vez –, atropelado por zagueiro carioca. Pela regra, tiro livre direto e expulsão do infrator. Para o VAR e o tal de Anderso Daronco, escalado árbitro, falta anterior para o Flamengo. Tudo com o beneplácito da rede de tevê transmissora, dona do semi-monopólio da comunicação brasileira. Ficou assim: 1×1, desconsiderados três gols em impedimento feitos pelo CAP.
Eis, então, o novo perfil coletivo do juiz gatuno: frequentador de academia e parceiro do VAR. Na malfadada partida, juiz e investigadores fizeram prevalecer o seu ponto de vista, a sua convicção, à margem da “lei” e com dispensa de provas. Não será surpresa se Daronco, aqui a algum tempo, ocupar posto de direção no rubro-negro carioca. Alguns dirão que a escolha hipotética seria algo normal. A outros, com maior justeza, apesar dos pontos surrupiados, sobrará o desabafo: Daronco ladrão! Fico com os últimos.
Kkkk. Arbitragem perfeita. Choro de timinho perdedor
Análise precisa: o que os dois olhos não viram, os dez dedos sentiram.