por Tostão
Não importa o resultado, Arthur é caminho do Brasil até a Copa
Brasil e Argentina fizeram um ótimo jogo, intenso, de muita marcação e belos lances com a Argentina finalizando mais e criando mais chances de gol. Quem venceu foi o Brasil, com dois belos lances com a dupla Gabriel Jesus e Roberto Firmino, do jeito que Tite quer, com Gabriel Jesus saindo da ponta para o centro.
A Argentina atuou bem, surpreendeu e mostrou que pode evoluir nos próximos anos. Messi deu dois passes para chances de gol, mas não foi o suficiente. O Brasil foi mais objetivo e mais uma vez não sofreu gols. Graças à organização tática e à qualidade dos defensores e do goleiro. Daniel Alves, livre e sem marcação, foi o craque do jogo.
Arthur atuou bem, mas sem grande brilho. Depois de encantar a todos, no Grêmio e no início no Barcelona, ele tem sido criticado por não “pisar na área”, por não dar o passe para frente e decisivo e por não fazer gols. Querem demais. Se ele fizesse tudo isso e mais o que sempre faz, seria quase perfeito.
Torcedores, treinadores e vários jornalistas esportivos costumam confundir as funções e as posições dos volantes, dos meio-campistas e dos meias ofensivos. São diferentes. Arthur é volante. Os melhores da posição, como Busquets, Kanté, Casemiro, Fernandinho e outros, não costumam dar passes decisivos nem fazer gols. Suas funções são de desarme, de proteção aos defensores, de iniciar as jogadas ofensivas, com passes precisos, e de ter o domínio da bola e do jogo no meio-campo.
No esquema atual da seleção, com dois volantes e um meia ofensivo (Coutinho), Casemiro e Arthur têm as mesmas funções, embora possuam características diferentes. Não há mais razão para chamar de primeiro e de segundo volantes. Já na Copa de 2018, o Brasil atuou com apenas um volante, centralizado (Casemiro), e um meio-campista de cada lado (Coutinho e Paulinho), que marcavam e atacavam. Os dois tinham também de avançar, de chegar à área.
No Barcelona, Vidal costuma ocupar o lugar de Arthur, já que o time joga também com um volante (Busquets), e dois meio-campistas que marcam e atacam (Rakitic e Arthur ou Vidal). Os dois têm de avançar. Vidal faz isso muito melhor que Arthur.
Arthur possui o estilo de Xavi, que também dava poucos passes decisivos e raramente fazia gols. Nem por isso, deixou de ser um cracaço, um dos maiores volantes da história. Arthur precisa evoluir, avançar, de vez em quando, no instante certo, como fazem os volantes, e não como os meias.
A seleção, com Arthur, poderá evoluir bastante até a Copa, por trocar mais passes e por ter mais o domínio da bola no meio-campo. Qualquer que seja o resultado da Copa América, esse é o caminho, sem confundir velocidade com pressa de chegar ao gol. É preciso saber o momento de folga e de aceleração, de contração e de expansão, sístole e diástole. É a sabedoria da natureza.
MUITAS COISAS ACONTECEM
Na coluna de domingo, citei a pergunta feita por Fernando Pessoa, em um de seus poemas: “Quem vai contar a história do que poderia ter sido?” Muitas verdades estão no que não foi.
Os pragmáticos e utilitaristas falam que a história é contada somente pelos vencedores e que o “se” não existe. Penso diferente. O “se” nos ensina, ainda mais em partidas equilibradas, que os detalhes, acasos, imprevistos, disputa de pênaltis, mudam os resultados e a história. Assim é também na vida.
Muitas equipes que ganham várias partidas seguidas, por detalhes, de repente, passam a perdê-las, também por detalhes. Aí, surgem dezenas de teorias, para tentar explicar o que ocorreu. Muitas coisas simplesmente acontecem.