por Hélio Schwartsman, na FSP
Nada indica que Bolsonaro vá alterar seu estilo de gestão
Julian Jaynes é o autor de uma das mais esquisitas teorias da psicologia. Ele propôs que a mente de homens antigos (de até uns 3.000 anos atrás) não operava de modo metaconsciente, isto é, era incapaz de elaborar pensamentos sobre pensamentos, crenças sobre crenças etc.
Para Jaynes, a mente primitiva era bicameral, funcionando através de respostas automáticas não-conscientes calcadas principalmente no hábito. Volições assumiam a forma de comandos neurológicos que se apresentavam como vozes, uma espécie de alucinação auditiva.
Não sei bem quanto ao homem antigo, mas Jaynes talvez tenha descrito Jair Bolsonaro, que parece mesmo estar seguindo seus comandos internos sem jamais refletir se eles ajudam ou atrapalham o governo, se são bons ou não para a sociedade.
Com efeito, o presidente parece agir desvinculado de qualquer plano estratégico. Algumas de suas propostas configuram regressões civilizatórias, como é o caso do decreto que generaliza a posse e o porte de armas e das mexidas na legislação de trânsito que reforçam os piores hábitos dos maus motoristas.
Outras tantas são apenas folclóricas, como o fim do horário de verão e as fritatas de ministros e outros auxiliares. Aparentemente, o governo cogita até de reverter a tomada de três pinos. Nunca fui um entusiasta do novo plugue, mas, se há uma ideia de jerico, é mandar voltar atrás agora que os custos da mudança já estão praticamente pagos.
O caos é tamanho que, de vez em quando, Bolsonaro até acerta, como é o caso da proposta de acabar com o teste toxicológico para motoristas profissionais (o tipo de exame escolhido nunca fez o menor sentido) e o veto à proibição da cobrança de bagagem em companhias aéreas.
Tenha ou não Bolsonaro uma mente bicameral, nada indica que ele alterará seu estilo de gestão. Isso significa que devemos nos preparar para mais três anos e meio de balbúrdia governamental.