por Célio Heitor Guimarães
O meu comentário da semana passada (“Calai-vos, chacais!) repercutiu além do esperado. Aqui no Zé Beto e no Facebook. Foi reproduzido no Solda Cáustico e no Contraponto, do Celso Nascimento. Expressivo foi o apoio, mas houve também algumas críticas e lamentos. Minha boa e estimada amiga Rose Dallagassa admoestou-me, indagando se agora “os fins justificam os meios”?
Claro que não, Rose. Nem foi isso que eu quis dizer ao afirmar ser comum o diálogo entre promotores/procuradores e juízes. Ainda que o entendimento entre as autoridades públicas seja necessário. Às vezes, até indispensável. Cito um exemplo, que envolve pessoa da minha família:
Meu pai era promotor de Justiça, já com vários anos de atividade, em Piraí do Sul, interior do Paraná. Eis que assume a comarca um jovem magistrado, pleno de energia e entusiasmo com o ofício (Mais tarde, ele chegaria a desembargador e presidiria o egrégio Tribunal de Justiça do Estado).
Na praça central, festejava-se a padroeira da cidade. Para distrair os paroquianos e arrecadar fundos para a igreja, o padre instalou uma roleta em uma das barraquinhas. O dr. Juiz ficou indignado. Procurou meu pai:
– O senhor não acha um absurdo?! O jogo é proibido e ainda mais em praça pública?!
– Acho – respondeu meu pai. “Se você acatar, faço a denúncia. Os seus antecessores preferiram que eu não fizesse, por se tratar de coisa do padre e já ser tradicional na cidade”.
– Claro que acato. Pode fazer – respondeu o diligente magistrado.
Denúncia feita, foi acatada de pronto pelo dr. Juiz, que determinou a imediata retirada da roleta da praça, sob pena de prisão do padre.
Foi aquele rebuliço. Protestou o sacerdote, protestaram os paroquianos e a cidade virou um pandemônio.
Sem saber como proceder, o dr. Juiz telefonou para o corregedor geral da Justiça, seu superior hierárquico, em Curitiba. Era uma poderosa autoridade, conhecida como “mão-peluda”.
Mas, em vez de apoio, o pobre magistrado, recebeu uma reprimenda:
– Mas você foi se meter logo com o padre?!…
Voltou a meu pai:
– E agora, dr. Honestálio? A força policial da cidade se resume a dois meganhas… O que vamos fazer?
– Peça reforço de Ponta Grossa – respondeu o experiente promotor.
Conselho aceito, policiamento reforçado e decisão judicial cumprida: a roleta foi recolhida ao depósito da igreja. Magistrado e representante do Ministério Público cumpriram os seus deveres. Em conjunto. Sem ofensa à ética, à moral ou ao Estado Democrático de Direito.
Quanto a “os fins justificam os meios”, princípio erroneamente atribuído a Maquiavel, jamais foi defendido por mim. No entanto, devo confessar que, nessa quadra da vida, depois de ver grassar e prevalecer tanta patifaria, ante a omissão, ineficácia e hipocrisia das autoridades, às vezes, quedo-me a pensar e passo a ter dúvida. Então, lembro-me do filme “Mississipi em Chamas”, de Alan Parker, com o grande Gene Hackman à frente do elenco.
A história é baseada em um fato real: uma pequena cidade do interior do Mississipi (EUA) é dominada pelo racismo. A população divide-se em brancos e negros, sendo a violência contra os negros uma tônica constante. Quando três ativistas dos direitos humanos desaparecem, o FBI envia dois agentes para investigar o caso. Mal recebidos, eles não têm a menor cooperação dos habitantes locais. O silêncio é absoluto. As próprias autoridades e até mesmo as crianças brancas vestem as túnicas da Klu Klux Klan; a comunidade afro-americana não tem coragem de abrir a boca. A situação é tensa, cada vez mais difícil, e exige inteligência e criatividade.
Como Hackman e seu companheiro de luta conseguem vencer a cerrada barreira de proteção dos malfeitores e desmontar o esquema racista reinante é contado na bem estruturada produção cinematográfica de 1988, que o leitor, se ainda não viu, deve ver com urgência.
A mesma sugestão faço à minha querida Rose. Depois, voltaremos a discutir a questão dos fins que poderão, eventualmente, justificar os meios. Nada é definitivo neste mundo; ao contrário, é tudo relativo, prezada amiga.
Prezado Celio,
recomendo a leitura do artigo de Antonio Vieira publicado aqui mesmo hoje.
Abracos
Célio, era só devolver a pergunta:
Os fins (soltar lula) justificam os meios (invadir celulares)?
A justificativa para tudo isso é muito simples e até repetitiva: soltar lula.
Cavalo velho não aprende caminho novo, só mudou a forma já que não dá mais para lutar contra as evidências vamos atacar as aparências…
O objetivo principal da justiça é paz social. O Brasil vivenciou o auge da corrupção exacerbada, instituições, empresas públicas, economia mista, departamentalizada pelo fisiologismo.
O quarto poder controlando todo o sistema cooptado pela força econômica.
Alguém teria de colocar um fim nesta maracutaia, pois, todos tinham tomado gosto pela coisa, apropriando do estado, de forma que este tornasse o instrumento (meios e fins) de manter toda organização no poder.
A guerra contra este “poder” para o bem da sociedade jamais teria êxito, ainda que parcial. Para eles não existem regras, leis, apenas poder pelo poder. O Brasil precisa reconhecer o hercúlio trabalho da PF, MPF, e de TODOS OS JUÍZES, MORO, BREDA, FISCHER… são nossas brava gente brasileira!!!
Fui ver que é “EGREGIO”e pude compreender como se da tanta importância nesse meio jurídico coalhado de malandros de toda especie e muitos drs ficam incomodados quando não os cumprimentamos como vossas excelências,vossas onipotências etc,chamar alguem desse ramo assim ,”como vai malaco”ou “tudo bem cara”eu acho que para eles é como se eu desse um tiro na sua testa.
É uma cambada de enroladores,um estorvo para a nação,e é o poder onde mais se rouba,bem mais que na politica.
Claro que não vamos aqui misturar uma corte americana,um juiz Sueco,mas dizer que nesse Pais tem justiça seria,me perdoe ,aqui tem 99% de malandros e 1% de juízes santos.
Tudo bem, grande Paulo Motta, mas que seja lido também o comentário do José, feito em seguida.
Aleluia! Não existe mais corrupção no Brasil, salve, salve! Fez se”justissa” e o Brasil foi salvo dos sapos barbudos e dos vermes comedores de criancinhas. A Embraer vai bem Boeing, obrigado, e a Petrobrás caminha maravilhosamente rumo à redenção no colo das quatro (?) irmãs!!! Tenho notado que até o jogo do bicho está se esmilinguindo, agora são os genéricos do baú da felicidade que dominam !!! Caminhamos rumo ao nirvana moral!