Da FSP
Morre o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, aos 74 anos
Ele teve imensa importância para o início da cinefilia no Brasil, mas ultimamente se tornou mais conhecido pela noite do Oscar
Quando se pensa em crítico de cinema no Brasil, normalmente o primeiro nome que vem à cabeça é o de Rubens Ewald Filho, morto nesta quarta (19). Ele estava internado no Hospital Samaritano, em São Paulo, desde maio, após sofrer um infarto e uma queda.
Mesmo sem ser um crítico na acepção da palavra (ele mesmo já chegou a declarar que se considerava mais um comentarista), seu nome está no imaginário das pessoas como um crítico de cinema famoso.
Talvez isso se deva às suas constantes participações televisivas nos anos 1980 e 1990. Em uma delas, falou de um filme de Manoel de Oliveira (“A Divina Comédia”, de 1991), como uma nova definição da palavra “chato”, provocando a ira de muitos cinéfilos admiradores do mestre português.
Talvez, para alguns mais antenados, a fama se deva aos valiosos guias de vídeo que lançou também nessas décadas, com um mapeamento exaustivo dos lançamentos brasileiros (mesmo quando anteriores às chamadas fitas seladas). Esses guias foram de imensa importância para o início da cinefilia naqueles tempos, e só por eles seu nome já merece um espaço no olimpo.
Seja como for, quantos de nós não ouvimos a expressão “é o novo Rubens Ewald Filho”, quando começamos a trilhar o caminho por vezes ingrato, mas sempre apaixonante, da crítica? É quase automático, o que de certo modo é um mérito.
E ele, certamente, era apaixonado. Não tanto pelo pensamento ou pela crítica como análise da forma e das forças que compreendem a produção de um filme. Mas certamente pelo cinema, pelas grandes atrizes (o amor por Debbie Reynolds é conhecido), pelos grandes filmes.
Sua concepção de cinema, como deu para perceber no comentário sobre o filme de Oliveira, era mais aberta ao popular e ao clássico. Gostava de filmes comunicativos e divertidos, embora reclamasse quando esses mesmos filmes ofendiam a inteligência do público.
Santista de nascimento, iniciou a carreira na Tribuna de Santos, partindo daí para muitos outros veículos, incluindo canais de TV. Em 1977, um dos anos mais produtivos de sua imensa carreira, lançou o “Dicionário de Cineastas”, importante compêndio de realizadores do mundo, com comentários sobre todos eles.
Foi roteirista de filmes (“Elas São do Baralho”, “A Árvore dos Sexos”), novelas (“Éramos Seis”, “Gina”) e também ator de cinema, participando de “Amor Estranho Amor” (1982), de Walter Hugo Khouri, “Independência ou Morte”, de Carlos Coimbra, entre outros. Foi também diretor de teatro (“O Amante de Lady Chatterley”, por exemplo).
Ultimamente, Rubens Ewald Filho era mais conhecido por seus comentários na noite do Oscar, quando desfilava o imenso repertório cinematográfico identificando os filmes, atores e diretores dos famosos clipes da cerimônia.
Com sua prematura partida, o amante de cinema perdeu um importante aliado.