por Contardo Calligaris*
Quem acha que transa só por estímulo geralmente apenas ignora suas fantasias
Você se lembra daqueles infelizes que zoavam mulheres estrangeiras, sugerindo que elas falassem palavras obscenas que elas não entendiam?
Pois bem, no dia 16 de maio, nosso presidente fez a mesma coisa no aeroporto de Manaus, com um rapaz oriental que não falava português e que veio cumprimentá-lo (bit.ly/2I2kO5T): para não perder a piada (mas quem ri de um besteira dessas?), ele terminou perguntando: “Tudo pequenininho aí?”. O filho Eduardo gravou e postou.
Caso a gente desacredite que o presidente possa achar graça em clichês racistas e infantis sobre tamanho do pinto, Bolsonaro confirmou. Em Petrolina (PE), para dizer que a reforma da Previdência não podia ser uma pequena reforma, insistiu: “Se for uma reforma de japonês, ele [Guedes] vai embora. Lá [no Japão], tudo é miniatura”. Engraçado?
Não sei de onde vem a convicção do presidente. Orgias das quais participariam muitos japoneses? Duvido. Será que, viajando ao Japão, ele frequentou muitos “sento” (casas de banho públicas)? Não consegui confirmação.
Resta imaginar que nosso presidente acredita em clichês ou faz de conta que acredita para ganhar a risada cúmplice de quem acha graça.
Caso alguém se pergunte mesmo qual é o tamanho do pinto japonês, aqui vão quatro respostas.
1) Há homens e mulheres para quem o tamanho é relevante. Para esses homens e mulheres, o pênis, por sua própria “visibilidade”, vale como um fetiche —sua presença conspícua aumenta a excitação sexual.
Existem pesquisas (uma de 1999, por exemplo, em bit.ly/2VStznW) para apontar que o sexo dos homens homossexuais é consistentemente maior do que o sexo dos heterossexuais. Talvez haja uma
diferença hormonal precoce na homossexualidade masculina. De qualquer forma, o fetichismo do pênis grande é bem presente no discurso do homossexual masculino.
Quantos às mulheres, elas podem achar pênis grande excitante, mas geralmente insistem que a grossura é mais importante que o comprimento (também há pesquisas sobre isso).
2) Mesmo assim, é possível afirmar que tamanho não é documento, porque, para os humanos, o desejo e a atividade sexuais são atividades mentais antes de serem físicas.
Ou seja, mulheres e homens não respondem a “estímulos”, mas a fantasias. Conseguir convidar o parceiro ou a parceira para nossas fantasias é sempre mais importante do que o tamanho dos órgãos. Quem acha que transa só por estímulo geralmente apenas ignora suas fantasias (o que o torna chato na cama e perigoso socialmente, pois é no mundo, fora da cama, que ele acaba realizando as fantasias que ignora).
3) Considerando que o sexo é antes de mais nada uma atividade mental, note-se que a cultura japonesa produz uma maravilhosa arte erótica popular (shunga) há um milênio. Sobretudo a partir do século 17, as xilogravuras explícitas, embora proibidas oficialmente em certas épocas, fazem parte da vida cotidiana, sendo portadoras de alegria, fecundidade e sorte.
Nessa arte refinada, os órgãos sexuais, masculinos e femininos são sempre hiperdimensionados. Eles têm o verdadeiro tamanho do sexo na cultura japonesa, que, contrariamente à nossa, cristã, não foi construída ao redor da repressão sexual.
4) Alguém impaciente: tudo bem, mas, afinal, é menor ou não? Em que “pesquisas” acreditar? Quais métodos: aceitar automedição ou só medição externa? Ereto? Mole? Com pele ou sem pele? Sem contar que as ditas “pesquisas” são infantilmente enviesadas —favorecem o país autor.
Gosto de uma pesquisa feita em 2012 pela Tenga, que ao menos tinha razões sérias para se interessar pela questão. Tenga é um fabricante de auxílios para masturbação masculina, que vende internacionalmente. Questão: vale a pena oferecer tamanhos diferentes? Quais diferenças e onde?
Quem ganhou? O Congo. Os japoneses não se deram mal: ficaram em décima posição depois de França, e
Austrália por exemplo.
E o Brasil? Não tive acesso à lista completa da pesquisa da Tenga. Mas, em outra pesquisa, publicada na Austrália em 2016, o Brasil está apenas acima dos grandes perdedores, que seriam Índia e Coreia do Sul (da do Norte nada se sabe).
Fato saliente da pesquisa da Tenga, o Japão vem antes dos Estados Unidos. Num próximo encontro com Trump, gravado e postado pelo Eduardo, o nosso presidente poderia, portanto, perguntar ao presidente americano: “Tudo pequeninho aí?”.