Ontem à noite brincávamos. Era domingo. Esquecemo-nos de que a segunda-feira tinha nos avistado do fundo do verde do mato e já preparava-se para dar o bote. Logo nossos sangues ficariam cheios do veneno das fábricas, das filas, das bolsas de valores e do frenético avanço tecnológico.
Sorríamos como se não tivesse havido a Revolução Industrial. O gato dormia isento de greves.
Eu precisava descansar da culpa do final de semana, por ter experimentado certo lazer no parque onde ninguém conversa (cada um tem o seu poder de compra e o seu pôr do sol).
Antes de escovar os dentes para esperar o Gozo dos Patrões, chutei a bolinha na sua direção, mas você nem quis jogá-la de volta para mim. Talvez já estivesse envenenada.
A bolinha parou encostada ao sofá. Não entrou debaixo dele, porém. Acho que ela gosta de ficar exposta aos Teóricos Sociais. Sua natureza de plástico azul e seu compromisso com a alegria a imunizam contra os Sindicatos e os Smartphones.
A serpente não a deseja. A bolinha azul não vai ao banco. Não sabe o que é contra-cheque. Não levou o choque. Não pega a doença dos alagamentos.
A bolinha gosta do sofá e do chão. Ninguém tem preconceito contra o seu tom de pele.
Ela permanecerá redonda, como o Planeta Terra. Tem sorte por não ficar triste quando alguém, redondamente enganado, diz que ela é plana.
A bolinha já tem um plano: ser resistência contra o Governo e apoiar as coisas que, como ela, rolam.
A semana se desenrola, há quem nos enrola, o petróleo nos assola, mas jogar a bolinha de plástico no Atlântico não rola.