Da coluna de Carlos Brickmann
E, já que falamos no regime militar, uma lembrança: nesta última terça, 29 de janeiro, um episódio tocante de solidariedade e competência fez 40 anos. Neste dia, os advogados Orlando Maluf Haddad, Ivo Galli, Gérson Mendonça Neto e José Francisco Martins Jr. venceram a batalha contra a ditadura uruguaia (e a brasileira) e conseguiram libertar o jornalista Flávio Tavares, que havia sido sequestrado por militares uruguaios e estava preso ilegalmente já por 200 dias.
A história como ela foi: logo após a deposição de João Goulart, Tavares, colunista de O Estado de S.Paulo, foi preso por ligações com Leonel Brizola. Saiu logo e passou à luta armada. Foi preso, torturado por longo período e condenado em 1967. Em 69, integrou o grupo libertado em troca do embaixador americano Charles Burke Elbrick.
Foi para o México, onde trabalhou no jornal Excelsior e no Estadão – aí com o pseudônimo de Julio Delgado. Mudou-se para a Argentina. No dia em que visitou Montevidéu, foi sequestrado, torturado e enviado para local desconhecido por militares uruguaios. Orlando Maluf Haddad, Martins, Galli e Mendonça o localizaram. Estadão e Excelsior iniciaram campanha por sua libertação, até que a ditadura uruguaia concordou em soltá-lo e expulsá-lo do país, a pedido do Brasil. Não podia voltar a nosso país, por ter sido banido em 1969; foi então para Portugal, via Argentina.
Final feliz
Em mensagem enviada agora a Orlando Maluf, Tavares lembra que foi acompanhado o tempo todo por ele – seria perigoso deixá-lo sozinho. Maluf também cuidou de seu filho Camilo, de seis anos. Em Buenos Aires, mais um risco: interrogaram-no sobre “as armas que levava”. Não havia nada. Todos, esposa, advogados, o embaixador de Portugal, o levaram até o avião. Hoje, aos 84 anos, Flávio Tavares vive (e escreve) em Porto Alegre.
Está no Talmud: quem salva uma vida salva o mundo inteiro.