De Darcy Ribeiro
Nossa terra brasileira é um país bonito. Muitíssimo bonito. Ainda é, graças ao que sobrou de nossas imensas matas verdes, cheias de flores e frutos. Seus mares, às vezes azuis, de águas límpidas, sempre moventes. Antigamente cheios de baleias soprando a água e de golfinhos danando sobre as ondas. Nossos rios descomunais foram muito poluídos, mais ainda guardam uma peixaria imensa. Nossos céus azuis são a alegria da passarada inumerável, de todo colorido.
Assim era o Brasil, a província mais linda do planeta. Mas, desde a chegada do europeu, vem enfeiando demais. A verdade é que nós, brasileiros, não tratamos bem de nossa morada. Acabamos com milhares de espécies animais, grandes e pequenos, para criarmos, em lugar delas, aquelas poucas que nos são mais úteis, como as vacas, os cavalos, os jumentos, as cabras, os porcos, as galinhas, os patos, os perus, etc. Acabamos, também, com imensas matas e campinas, a fim de plantar capim para o bichos ou lavouras para nossa comida. Isto, ainda que triste, é explicável. Adaptávamos as terras e as águas às nossas necessidades. Mas sempre se deixava, aqui e ali, alguns bosques florestais, em que se podia ver como o Brasil foi bonito.
Ultimamente, as coisas pioraram muito. As fábricas esfumaçando gases fétidos e vomitando ácidos nojentos nos rios. As lavouras, abusando dos desfolhantes, inseticidas e fertilizantes químicos, em quantidade cada vez mais espantosas, estão envenenando as águas que estamos bebendo, poluindo os vegetais que comemos, acabando com os peixes e com os animais silvestres. As aves, antes, eram tantas, que escureciam o céu quando voavam. Hoje, quase acabaram, nas terras e nos mares.
O certo é que vivemos desfazendo e apodrecendo o mundo belo que herdamos dos índios. Que será dos netos de nossos netos, se isso continuar? É preciso evitar o desastre previsível, defendendo agora as condições necessárias para que os verdes floresçam e os bandos de bichos silvestres se refaçam. Sem muita vida vicejante, nossa gente humana também sucumbirá. Um século mais do tipo de ocupação que fazemos destruiria toda a prodigiosa natureza brasileira. Assim como acabamos com a imensidão da Floresta Atlântica, acabaríamos também com a Amazônia, que é o jardim da Terra. Seria um suicídio feio, fruto da ignorância e da ganância.