por Fernando Muniz
Do alto da pedra em que reina sobre a savana, o leão percebe uma hiena se aproximar. “O que te traz aqui, minha súdita?”.
O rugido assusta a hiena, que ensaia fugir. “Eu?! Ora meu rei, quem sou eu para perturbar vossa regência?”.
“Pois aqui estás; assim, aproxima-te”.
A hiena se coloca diante do leão e, contrita, começa a falar. “Ó rei, lá em meu canto, nas margens deste reino, pergunto o que deveria fazer para me equiparar à vossa majestade”.
O leão aperta os olhos e fixa o olhar na hiena, que baixa a cabeça. “Tu és como o vento, ora estás aqui, dali a pouco não mais. Eu permaneço em meu lugar, a cumprir meus deveres, não importa o quê. Eis a nossa diferença e será sempre assim”.
“Mas meu rei, o rio também não fica parado, por isso nunca é o mesmo e, sem ele, não existiria vida em vosso reino”.
“Mas o rio não altera o seu leito por mero capricho, cobiça ou conveniência”. E dá uma patada na hiena, que, lanhada no lombo, uiva de dor.
“Por que isso, meu rei? O que fiz para merecer tamanha reprimenda?”.
“Estás equivocada, porque não te puni. É para que te lembres de quem eu sou e de quem tu és. Onde estiveres”.