O futebol brasileiro passou a ser um jogo de estocadas, sobressaltos, de belos lances esporádicos, de bolas longas e de pouca lucidez. (Tostão)
Com início da temporada, existe alguma promessa de craque no Brasil?
O Brasil continua produzindo bons jogadores, mas produz poucos craques
por Tostão, na FSP
Começaram os estaduais e o Sul-Americano Sub-20. No dia 25, termina a Copa São Paulo de Juniores. Existe alguma promessa de craque?
Como quase todos os jogadores que atuam no Brasil sonham em atuar na Europa, estão aqui, com raras exceções, os que não têm propostas ou que foram e voltaram, por desinteresse dos clubes de fora e/ou porque ganham no Brasil mais que nos clubes médios europeus.
Os brasileiros que são destaque na Europa têm mais chance de serem chamados para a seleção, como se tivessem passado por um teste de qualidade.
Dos jogadores que atuam no Brasil, mesmo os mais badalados, como Dudu, Hernanes, Gabigol, Luan e outros, o único que atuou na Copa de 2018 foi Arrascaeta, mas, se fosse brasileiro, provavelmente, não iria, por causa da concorrência.
O Mundial acabou há mais de seis meses, e o único jogador que não estava na Copa e que merece ser titular da atual Seleção é Arthur. Isso mostra as dificuldades de Tite para renovar a equipe.
Alguns jovens, como Vinícius Júnior, Paquetá, Rodrygo e Militão, são esperanças.
A França foi campeã do mundo porque tinha uns cinco jogadores entre os melhores do mundo em suas posições (Varane, Kanté, Pogba, Griezmann e Mbappé).
Escuto, com frequência, o que deve ser verdade, que a estrutura, os técnicos e outros profissionais das categorias de base são muito bem preparados. Alguns treinadores, em 2018, passaram a dirigir as equipes principais. Porém, noto que há menos paciência com eles do que com os mais veteranos.
Quando um time grande, dirigido por um jovem treinador, não vai bem, falam sempre as mesmas coisas, que falta comando no vestiário, que ele não tem estofo para dar bronca em jogador famoso e outros lugares-comuns. Os treinadores, jovens e veteranos, acertam e erram.
Espero que os jovens técnicos se libertem das amarras, dos clichês, dos vícios, e sigam suas ideias, mesmo com os corvos querendo suas cabeças. Para serem ótimos profissionais, não basta também saber todas as informações, as estatísticas e conhecer todos os manuais científicos. É necessário saber comandar um grupo e ser um bom observador de coisas objetivas e subjetivas. A vida e o futebol se passam também nas entrelinhas, no que poderia ter sido.
Por decisão dos técnicos, nem os repórteres setoristas, que vão todos os dias ao clube, assistem aos treinamentos. A falta de informações detalhadas, não oficiais, dificulta as análises das equipes, embora o mais importante seja o jogo. Alguns repórteres, sem perceber, tornam-se repetidores de notícias dadas pelos clubes e pelos treinadores, quase porta-vozes. Na Copa, isso foi evidente.
Não assisto aos treinamentos, mas vejo todos os jogos importantes com atenção. Tenho a impressão que existe, nas preparações coletivas, desde as categorias de base, um molde de produção em série de jogadores. Há décadas, o que mais se vê, no Brasil, são meias e atacantes hábeis, rápidos e dribladores. Por outro lado, desapareceram os meio-campistas criativos, organizadores e que têm bom passe.
O futebol brasileiro passou a ser um jogo de estocadas, sobressaltos, de belos lances esporádicos, de bolas longas e de pouca lucidez.