por Fernando Muniz
Não pode ser verdade. Não mesmo. Quem nunca viveu uma experiência dessas não compreende o que fazem lá e acaba falando besteira. As pessoas tiram conclusões apressadas, esse é o problema dos dias de hoje. Eu mesmo já ajudei em atividades depois do culto, como tantas outras crianças naquela época.
Esfregávamos nossas mãozinhas nos braços dele, para descarregar o ectoplasma daquele homem importante, conhecido até no estrangeiro. As fiéis que nos acompanhavam tinham muita ternura por nós, pela seriedade com que encarávamos aquela missão, apesar de nos sentirmos constrangidos. Ah sim, achávamos aquela situação um pouco estranha; nem meu pai eu tinha visto só de cuecas.
Lembro que lambuzávamos ele com um tipo de salmoura, que cheirava a hortelã. Passávamos no peito dele ajudados por umas mulheres de branco, todos em estado de oração, compenetrados. De vez em quando ele falava coisas incompreensíveis, com um meio sorriso no rosto, por certo da entidade que teimava em não ir embora.
Até que ele abria os olhos, com uma expressão de quem estava em transe, ainda possuído. Entre os dentes um sorriso, que por certo não era dele.
De um espírito tarado.