Action Comics #1 lançou Superman
por Célio Heitor Guimarães
– É um pássaro?
– É um avião?
– Não, é Superman, defensor dos fracos e oprimidos.
Era abril de 1938 e chegava às bancas de revistas norte-americanas (com data de junho) a primeira edição de Action Comics. Na capa, um sujeito fortão, vestindo um uniforme colorido e uma pequena capa, erguia um carro com os braços, para o espanto geral. Foi a estreia de Superman, o primeiro super-herói dos quadrinhos, criado por dois jovens recém saídos da adolescência (tinham ambos 23 anos): Jerry Siegel e Joe Shuster.
Shuster veio do Canadá e conheceu Siegel, filho de imigrantes judeus da Lituânia, em Cleveland, Ohio. Fãs de ficção científica, logo se tornaram amigos. Em 1933, a dupla lançou no fanzine Science Fiction: The Advance Guard of Future Civilization o conto “The Reign of the Super-Man”, que seria o ponto de partida para a criação de Superman.
Originário de Krypton, um planeta condenado à extinção, o jovem Kal foi enviado ainda bebê a Terra pelo pai, o cientista Jor-El. O foguete kryptoniano caiu em um campo no Kansas, onde foi descoberto pelo casal Jonathan e Martha Kent. A luz amarela do nosso Sol ofereceu ao recém chegado – rebatizado como Clark Kent por seus pais adotivos – poderes como a capacidade de voar, invulnerabilidade, superforça, visão de calor e de raio-X e outras habilidades.
Não foi fácil o início do personagem. Julgado inverossímil por deter superpoderes, foi rejeitado durante seis anos por inúmeras editoras, até que os autores conseguiram vendê-lo para a DC Comics por 10 dólares, quantia que, mais tarde, motivaria longa discussão nos tribunais. Em 1975, Siegel e Shuster iniciaram uma campanha pública contra a DC Comics, reclamando do tratamento que recebiam da empresa. A Warner Communications, que então controlava a DC, aceitou pagar aos autores uma quantia vitalícia de 20 mil dólares por ano e garantiu que todos os quadrinhos, episódios de TV e filmes, assim como jogos eletrônicos com Superman fossem creditados como criações de Jerry Siegel e Joe Shuster – o que acontece até hoje.
Em abril de 1999, a viúva de Siegel e a filha Laura iniciaram uma batalha judicial contra a Warner sobre direitos autorais. Em março de 2008, o juiz Stephen G. Larson, da Corte da Califórnia, sentenciou a favor dos Siegel, que ficaram com parte dos direitos do personagem no país, a partir de trabalhos publicados em 1999.
Action Comics # 1 vendeu mais de 100 mil exemplares e abriu as portas para os super-heróis nos EUA. Custava 10 cents e os poucos exemplares hoje ainda existentes são comercializados por até US$ 2 milhões.
Tudo isso e muito mais é contado em “A História de Joe Shuster – O artista por trás do Superman”, publicação em quadrinhos lançada no Brasil pela Aleph. O roteiro é de Julian Voloj e a arte de Thomas Campi.
Na verdade, Jerry Siegel e Joe Shuster apenas sonhavam ganhar a vida publicando quadrinhos, mas acabaram impulsionando aquele que viria a ser o maior herói do universo quadrinizado, com uma trajetória de mais de 80 anos.
Super-Homem, como era chamado nos primeiros tempos de Brasil, foi sempre um dos meus heróis favoritos. Conheci-o em O Lobinho, do pioneiro Adolfo Aizen. Depois, reencontrei-o na Ebal, também de Aizen, onde ele ganhou o título próprio Superman, em novembro de 1947. Do Azulão não me desgrudei mais. Tenho praticamente todos os números das várias séries editadas pela Brasil-América, incluindo os exemplares coloridos, almanaques, edições bimensais e os subprodutos do título (Superboy, Supermoça, Jimmy Olsen & Míriam Lane, Legião dos Super-Heróis, Liga da Justiça, Super-Homem & Batman) e em formatinho. Tenho ainda, devidamente organizadas, as fases da Abril e da Panini. É um mundão de gibis.
Durante a carreira, Super-Homem passou por muitas e más situações. Tiraram-lhe os poderes, condenaram-no ao exílio, raptaram-lhe a memória, demitiram-no do jornal “Planeta Diário”, mudaram-lhe o uniforme, transformaram-no em “cyborg”, em hippie, em mutante e até em presidente dos EUA. Matar, já o mataram umas quatro ou cinco vezes. Conseguiram fazê-lo casar-se, enfim, com a quase desesperançada Lois Lane, mas esse casamento foi esquecido. Faltava fazer o homem de Krypton desmunhecar. Carência suprida em 1997, quando ele passou a dar choques.
Em 2011, ainda desesperados pela contínua queda de vendagem das revistas, os homens do marketing da DC resolveram dar nova (mais uma) repaginada no Herói de Aço. Primeiro, trocaram a tradicional malha justa azul e vermelha por calças jean; ele passou a usar botinas de cadarço, camiseta de mangas curtas e uma ridícula capa. Depois, abandonou a velha sunga sobre a malha para ficar mais próximo da imagem criada pelo cinema. Mas os enredos das histórias impressas continuaram ruins, mais ruins do que nunca. Além disso, os editores revelaram-se mais perigosos do que a kryptonita vermelha. Em seus devaneios, conseguiram descaracterizar o mais famoso super-herói dos comics, tão popular quanto a Coca-Cola e o MacDonald americanos.
Por tudo isso, em janeiro de 2014, despedi-me de Super-Homem. Não mais adquiri exemplares de Superman. Foi uma fiel parceria de quase setenta anos que chegou ao fim.
Os Estados Unidos tem lá o Capitão América – O Vencedor, Capitão Marvel, Flash Gordon, esse ai o Super-Homem, Cody – O Marechal do Universo, Durango Kid, Roy Rogers, Rex Alllen, Zorro, o Homem Aranha.
Ciaram para nós Zé Carioca simbolizando a malandragem. E temos Macunaima, a preguiça personificada. Mais: Mazzaroppi, Jeca Tatú, Lula. É de pelar o pescoço da gralha.