Ele foi arrumar a posição da antena no telhado alto. Alguém atirou e acertou uma pedrada na testa. Se caísse, morreria, com certeza. Se segurou no cano. Alguém lá embaixo gritou: “Assim! A imagem ficou ótima!” Desceu puto da vida. Um galo enorme nasceu abaixo da ponta ossuda da testa. Entrou direto no quarto. Na sala, Airton e Lolita Rodrigues chamaram Altemar Dutra para cantar no programa “Almoço com as Estrelas”. TV Tupi. Preto e branco. Nunca soube o que aquele povo comia. Nem queria. Bastava o sofrimento dos domingos, quando via na matinée aqueles banquetes romanos, porco assado com maçã na boca. Em casa o bife aparecia no prato uma vez por semana. Ninguém se incomodava. Pelé o aquele Santos jogavam no rádio. O salário de operário daquele que foi alvejado dava para tudo. E havia a missa, onde o padre falava sobre milagres – e na cabeça vinha apenas a certeza de que havia um túnel entre a catedral e o colégio de freiras do outro lado da rua.
Muito boa crônica Ze da Silva.
Eu acho que tem esses tuneis,e também as escapadelas no meio da noite.