O poeta vive no labirinto do medo. Não sabe o que fazer, a não ser escrever sobre o que pensa que sente. Acerta sempre. Daí que vem uma luz nas suas trevas e ele atravessa o buraco negro do Universo para ver deus – e se proclama gênio. Não é. Procura nas paixões platônicas uma boca para o primeiro beijo que vai tirá-lo do escuro – e lhe conduzir para o sexo. Algo o trava desde que que começou a pensar. Procurou na bebida e nas outras drogas uma saída, uma entrada, a revelação, mas achou a loucura incontrolável. A explosão de violência como forma de extravasar o que não entende. Os internamentos, as fugas, os remédios. Dez dias aguentou na rua, para onde sempre vai depois do primeiro gole. Quase morreu de hipotermia na cidade fria. Escreve para se salvar, mas ainda não consegue ouvir-se dizendo que, além do talento, tem a força da vida parida no ventre da mãe que o protege e se desespera. Agora está tentando de novo, cercado de muros e terapeutas. Há esperança. Ele tem o poder superior, que pode ser o talento de poeta, cujas palavras fazem descobertas nas almas alheias.