De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário
“Você é um talento que se perdeu no caminho”. O autor da frase queria elogiar. Não, foi xingamento, o estar perdido pelo caminho, sem dúvida. Mas não o único, teve o atribuir talento. Há quem adore elogio, falso ou sincero. É a maioria. Há a minoria, até insignificante, que detesta elogio.
Há razões para rejeitar elogios. Como atribuir qualidade que o elogiado não aprecia. Ou não registrar a qualidade que o elogiado atribui a si mesmo. Na minoria estão os que consideram o elogio uma abusiva invasão de privacidade, intimidade não autorizada, intromissão abelhuda.
O “talento que se perdeu no caminho”. Não revelou o talento, ainda bem, ofensa agravada. Perdido no caminho: quem tem caminho na vida? Tirando políticos, conheço no máximo uns cinco caras nascidos com GPS na alma, rota prévia, traçada e inalterável, metas para cada etapa de vida.
Elogio que desagrada remete a Anatole France. Em visita ao Brasil foi saudado por Rui Barbosa na Academia. Nossa pororoca de sinônimos enalteceu a obra filosófica de France, prêmio Nobel de Literatura. Que, de volta à França, reclamou que Rui ignorara sua obra literária.