Do G1
A Justiça do Paraná aceitou denúncia contra o médium Maury Rodrigues da Cruz, diretor presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), localizado no bairro Tingui, em Curitiba, pelos crimes de violação sexual mediante fraude e estelionato.
O G1 Paraná e a RPC tiveram acesso à denúncia oferecida pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR).
Com a decisão, o médium, que também foi diretor do Museu Paranaense e professor universitário, passa a responder como réu no processo. O caso corre em segredo de Justiça.
“Aproveitando-se da fé espírita de que a vítima é portadora e plenamente ciente de que ela o considerava um líder religioso, o denunciado logrou êxito, obtendo a supracitada vantagem patrimonial indevida”, diz trecho da denúncia.
A defesa de Maury Rodrigues informou que não pode comentar o caso por conta do segredo de Justiça.
A denúncia cita três vítimas do médium. Uma delas é o engenheiro eletrônico Fernando da Costa Frazão, que frequentou o local por cerca de dois anos.
Segundo ele, o médium Maury se aproveitava da fé das pessoas que procuravam a SBEE para tentar se aproximar e cometer a violação sexual. Os casos aconteciam, segundo ele, durante as sessões de ectoplasmia, que é quando os espíritos se manifestam em uma pessoa viva.
Ainda de acordo com Fernando, o médium age sempre da mesma forma: simula ter “incorporado” um espírito e diz que esse espírito teve uma relação íntima passada com a pessoa que está participando da sessão espírita.
“As sessões acontecem na madrugada e, algumas vezes, a gente se vê sozinho com o professor Maury. Nessas conversas, ele acaba te envolvendo, dizendo que você é especial (…), e com o passar do tempo essa intimidade começa a ser maior e ele vai querendo beijar, forçar um beijo, e isso acaba sendo um pouco estranho”, contou o engenheiro.
Pelo menos 20 pessoas relataram o caso
Além das três pessoas citadas na denúncia, os promotores do MP-PR ouviram pelo menos vinte 20 pessoas que também relataram o caso. Entretanto, na maioria dos casos, os crimes prescreveram.
Na denúncia, estão casos que ocorreram há menos de seis meses, desde o início das investigações em fevereiro.
No caso de um empresário, que preferiu não se identificar, a situação, de acordo com ele, foi um pouco mais além do que a de Fernando Frazão. Segundo o empresário, em certo momento da sessão, o médium pediu para que ele colocasse a mão na parte do “baixo ventre”.
“Pra mim, baixo ventre seria a parte debaixo do abdômem. Aí, eu coloquei a minha mão mais ou menos embaixo do umbigo dele, e ele pegou a minha mão e colocou um pouco mais pra baixo. Eu fiquei assustado e sem saber o que tinha acontecido. Aí tirei a mão dali meio que reagindo e ele começou a fazer um teatro de como se estivesse passando muito mal”, contou.
O empresário afirmou ainda que só depois que descobriu que outras pessoas também tinham sido alvo da mesma situação constrangedora, pode perceber a gravidade do caso.
“Hoje eu percebo que cada um tinha uma pecinha do quebra-cabeças, mas ninguém conseguia juntar. Que era esse psicopata que está aí e que fazia o bem de fechada e por trás fazia o mal”, ressaltou.
O professora Gladiomar Saade de Castilhos, que é mãe de outro homem que também relatou o abuso, contou que trabalhou de maneira voluntária ao médium Maury Rodrigues por 25 anos e que só soube que o filho dela também tinha sido vítima em janeiro deste ano.
Antes de descobrir o ocorrido, ela disse que o filho teve várias crises de depressão e que acabou se mudando para os Estados Unidos com a esposa e os filhos.
“Ele nunca me contou nada porque ficou preocupado em mexer e possivelmente desestruturar a minha fé. Até que um psicólogo o orientou que ele só iria se aliviar quando desabafasse comigo”, explicou Gladiomar. Segundo ela, quando o filho participava das sessões de ectoplasmia, tinha 15 anos. Atualmente, ele tem 38.
A dor ao ouvir o filho contando coisas que ele nunca pode imaginar, é imensurável, segundo a mãe.
Depois de descobrir o que aconteceu, Gladiomar conversou com outras pessoas que também frequentavam a Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas e descobriu as outras vítimas. Imediatamente, ela denunciou o caso ao MP.
“Cada um relatou uma situação diferente da outra, mas com o mesmo modus operandi. Ou seja, dizendo que o médium valoriza o sujeito em uma hora de fragilidade dizendo que ele era importante e chegando a um ponto que ele não sente mais constrangimento nenhum, remorso nenhum, não sente pena nas pessoas”, declarou a mãe.
Médium pede orações
Em fevereiro deste ano, logo após as primeiras denúncias, Maury Rodrigues publicou um vídeo na página da sociedade espírita. Ele chamou o vídeo de “mensagem aos espíritas” e disse:
“Não tenho que me defender porque não fiz nada, pelo que os irmãos orem por mim”.
Até a publicação, a reportagem não tinha conseguido contato com a Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas.
A Justiça deu um prazo de dez dias para que Maury Cruz apresente uma defesa prévia.
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