7:04O presidente virou ectoplasma

por Renato Terra 

Michel Temer entrou em cadeia nacional de rádio e televisão em pronunciamento no Dia do Trabalho. É possível que você esteja sabendo disso agora, quando lê esta coluna. Nenhuma panela foi batida. Nenhuma saudação ao presidente foi feita. Seu discurso sequer virou meme.

Segundo o departamento de fenômenos político-sobrenaturais da USP, Temer atingiu patamares de popularidade tão baixos que virou ectoplasma. Sua imagem no pronunciamento foi vista apenas por alguns médiuns mais sensíveis. “Ele está desaparecendo, que nem aquelas fotografias do filme ‘De Volta para o Futuro’. Se ninguém der bola, ele vai se desintegrar completamente”, explicou o professor Abraham Van Helsing.

No intuito de se comunicar com o presidente, ministros abriram uma licitação para erguer uma mesa branca no Planalto. Finalizada em tempo recorde pela nova Odebrecht, a mesa de plástico branca custou R$ 5 milhões. Coube ao Pai Jucá, famoso por prever o impeachment, a tarefa de psicografar a primeira mensagem do presidente fantasma. “Pior do que o ódio e o amor é a indiferença”, escreveu num papel de pão.

Marcela Temer se desesperou: “Nem mesóclise ele faz mais! Nenhum verso libertino!”. Eliseu Padilha fez eco a seu lamento: “Nenhuma palavrinha em latim! Cadê o nosso Michel?”, exasperou-se.

Temer demonstrou força descomunal ao se materializar —de surpresa— nas cercanias do incêndio no largo do Paissandu. Foi confundido com assombração e escorraçado do local. “Pelo menos ele se fez notar”, salientou Pai Jucá. “Mas pode ter sido seu canto do cisne”, ponderou, misterioso.

A tendência, segundo especialistas, é que Temer desapareça por completo antes de ser denunciado pela terceira vez e o Brasil passe a ser formalmente governado por seus acionistas majoritários.

“Ainda tem essa Copa do Mundo no meio”, lembrou alguém desimportante. Nas sombras do Congresso, a base aliada já trata o presidente como “aquele que não se deve nomear”.

Procurado, Temer não foi encontrado para comentar.

CONTADOR

Estamos trabalhando constrangidos há 51 dias sem saber quem matou —e quem mandou matar— Marielle Franco. E sem saber quem governa o Brasil.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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