por Nelson Padrella
Quero informar ao colega jornalista que de todos os vícios pesados que encarei na juventude nenhum deles chegou perto da cocolatria. Sou um cocólatra praticante desde os tempos do jornal O Radical e da Revista Fon Fon, que eu não lia porque também praticava a ignorância padrão dos quatro-cinco anos. Meu Pai era quem lia para mim, para desgosto de madrecita, que já antecipava o filho trillhando a senda do vício, como de fato. Sempre fui apreciador de cocos verdes. Sorvia aquele líquido docessalgado na própria fruta, antecipando que me tornaria escravo desse vício. Vício de que não me envergonho, de que nunca me envergonhei, e vem um prefeito e baixa uma ordem proibindo meu prazer solitário de sorver a água do coco na casca, esmagando minhas melhores memórias da infância, que eram tão raras naqueles tempos de ditadura, quando nossos melhores rapazes eram enviados para se transformarem em cruzes em Pistóia. Meu vício,meu prazer eu o pratico às escondidas dos fiscais do Governo. Solitário, me abaixo entre as barracas da Feira da Ordem e, mesmo com medo da repressão, me entrego ao prazer solitário e bebo a água de coco na própria gamela criada por Deus, como foi sempre.
Mais uma padrellada certeira do nosso Nelson.
Uia!