11:37Bodas

por Yuri Vasconcelos Silva

18 anos casado. Não há nada de especial nisso. A linha equalizada um pouco abaixo da média, sem os picos e rincões da juventude. Não desejo mais ir para o Butão. Um fim de semana chuvoso já preenche velhas esperanças. O compasso circular dos atos diários me acolhe na segurança da previsibilidade. Comida pros cães, a mulher da casa de madeira rosa batendo o tapete na varanda, um caminhão na pista da esquerda seguido pelo som de buzinas, o almoço como um brinde dos dias que passam, entregar o pequeno aos cuidados de uma escola cristã – ainda que ateu. Digitar, desenhar, fingir, explicar. Cafés em pequenas xícaras para reforçar o ato de se servir, com o balançar e tilintar da colher açucarada na borda da porcelana. Dirigir de volta, com o pequeno alvoroçado cantando músicas em inglês errado. Conversar com os cães para saber como foi o dia. Ouvir as mesmas notícias em três canais diferentes – apesar da imensidão do mundo – enquanto me empanturro de pão branco com geleia, visando a árvore torta que balança e arranha o vidro da janela. Ler, ver, desejar, dormir. Dois “boa noite” e o quarto escuro com pontos de luz intermitentes flutuando do lado de fora da casa. Vagalumes. São 18 anos casado e, assim como a vida, nada de extraordinário. Que assim seja.

 

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