por Sergio Brandão

Um pouco antes de completar 44 anos, finalmente a ficha começa a cair, ainda longe de uma atitude de macho, que me levasse a uma decisão mais radical, o que de fato deveria ser feito de verdade – mas era um começo.

Foi por conta do esporte que as coisas gradativamente foram acontecendo. Foi com ele a quem chamo de instrumento de transformação, que usei como virada de jogo. Mas antes ainda paguei um preço alto para entender que jogar tênis, mas fumando três maços de Carlton por dia, não era exatamente a combinação que me daria qualidade de vida.

Só no dia 6 de março de 2001, decido pelo fim do cigarro. Foi depois de um torneio, onde em três dias fui caminhando e me classificando para etapas seguintes da competição. Cheguei na semifinal ( só Deus sabe como), mal conseguindo andar em quadra. Aquilo foi o limite: ou eu parava com aquela brincadeira de ser esportista, ou parava com o cigarro e todos os seus acompanhantes. Aquilo tudo junto, em algum momento ia acabar comigo. Decidi pelo fim do tabagismo e seus “acessórios”.

Consegui focar na proposta. Me mantive quase obcecado, fazendo valer a máxima dos alcoólicos anônimos – “um dia de cada vez”. Com cinco dias de abstinência, era bom olhar pra trás e ver aquele estrago todo pelo retrovisor…olhava pra frente e sentia o paladar das coisas, retomando o gosto pelos alimentos. Era pouco, mas o suficiente pra me empurrar adiante.

Acabo fazendo uma nova descoberta: ali também mora a obesidade. A comida ganha muito no sabor sem o cigarro. Mas nada era maior que a vontade de dar fim ao cigarro. Aos poucos fui trocando a obsessão pela teimosia. Noites, dias, semanas… uns dois meses, mais ou menos, sonhando com cinzeiro voando.

Nestes dias, jogar tênis foi a grande muleta. Me “acabava” na quadra, jogando uma partida de duas horas, duas horas e meia. Minha necessidade pulmonar era oxigênio – e não cigarro.

A partir disso fui sendo ajudado por uma sucessão de fatos que foram marcando esta mudança. Muitas histórias de lá pra cá.

Doze Maratonas, dezenas de corridas de rua, vários Duathlons, Triathlons, por vários lugares. Muitos amigos, muitas parcerias que me acompanham até hoje.

Entre muitas histórias, a de um tumor por exemplo, (rapidamente eliminado) em 2011. Provavelmente consequência dos anos que passei judiando do corpo.

Essa nova experiência me valeu uma enorme paixão pelo esporte, a quem ainda devo e quero pagar.

Também gosto de futebol, mas costumo dizer que não é esporte. Futebol é um grande negócio, que envolve muito dinheiro, o dinheiro que falta ao esporte amador.

Mesmo assim, só na raça, o esporte (que ainda chamam de amador), virou profissão para muitos. Se desenvolveu tanto que é objeto de estudo, ganhando parceiros de outras áreas que ajudam na relação homem/esporte, cada vez mais profissional e menos amador. O educador físico ganhou vários parceiros, como a psicologia e a nutrição esportiva.

O esporte foi a ficha que caiu aos 44 anos e que neste começo de março completamos uma relação de 18 anos.