por Fernando Muniz
“E agora?” Faz um exercício de respiração, aprendido nas aulas de yoga; tenta mirar a pistola sem tremer, enquanto fala ao celular.
“Como assim?!” Do outro lado da linha o colega de faculdade, da polícia, acha graça na pergunta.
“Ele tá me ameaçando. Disse que, se eu chamar a polícia, ele vai em cana, mas sai logo e volta aqui, pr’acabar comigo e com a minha família!”
“Hum. De fato, ele não vai ficar muito tempo preso. É de menor?”
“Não sei, mas parece”. Examina o assaltante: um pivete, amarrado com fio de varal, roupa rasgada e olho roxo. Mesmo assim sustenta um ar duro, de quem já esteve na mesma situação outras vezes.
“Puta que o pariu, cagada ter rendido ele, né?”
“Pois é, meu velho. E depois dizem que estudar deixa o sujeito esperto”.
“Mas e agora?”
O policial coça a cabeça, olha para a escrivaninha, para o corredor da delegacia cheio de gente e solta a resposta, entediado.
“Pega essa tua pistola chique aí e apaga ele”.