Há alguns anos ele não fazia aquilo. Se impôs porque era muito perigoso. Na casa ninguém sabia disso. No período em que usou, tornou-se o mais violento dos pais. Bastava que alguém tossisse para ele desencadear a pancadaria – que incluía até um chicote. A caixinha azul em cima do balcão do banheiro o enfeitiçou de novo. Ele então tirou dois cotonetes da caixa e voltou a sentir o prazer de empurrar as hastes para dentro do ouvido até onde dava. Depois… Quebrou a tela de tv plasma onde o casal de filhos assistia a reprise de uma telenovela. Eles tentaram correr, mas a menina não escapou, pois ele a a agarrou pelos cabelos. O tapa na cara foi violento demais. Ela desmaiou. Ele saiu de casa. Ela acordou com ódio. Foi até o quintal e pegou o cachorrinho que o pai estimava demais – e não espancava nos surtos. Ela amarrou-o no trilho que passava perto da casa. Sentou ao lado e ficou olhando o trem passar. No outro dia estava na delegacia porque alguém viu o crime. Perguntaram porque fez aquilo. Ela respondeu que não sabia, mas desconfiava que era por causa dos cotonetes.