Na curva do rio me enterraram antes de eu saber das coisas complicadas da vida. Água barrenta bebi pela raiz e cresci beijado por peixes. Ouvi o canto de lavadeiras e o som das roupas batidas nas pedras. Soube da história da padroeira sendo pescada em outro mar de correnteza e água doce. Um dia quase fui fisgado por anzol. Minha boca poderia ser arrancada com o puxão da linha de nylon. Mas eu estava na curva do rio onde, um dia, soube mais tarde, enterram o coração de alguém que pediu. Era um índio, lá de bem longe, que ficou famoso em livro e filme. Mas isso é outra história. Eu nasci para o mundo no dia que vi uma criança ser jogada por alguém para ser tragada e esmagada nas pedras das correntezas. Um bebê que abracei e saí com ele num lugar da margem por onde entrei na mata. Quando coloquei o pé na terra ele chorou. Então olhei. Era eu mesmo.