por Roberto Prado
Repentinamente passaram a pedir o mínimo de 180 paus por qualquer galinheiro em Curitiba. Esta cifra-padrão mínima é aplicada para toda espécie de terreno (“datas”, no linguajar nortista do Paraná) casa e apartamento, em qualquer local que possa ser remotamente chamado de “bairro”, não importa se com dois ou três poleiros, em aclive ou declive, altos, baixos, secos ou molhados. Não se canse, é centoeoitentão e está acabado: se achou caro que vá chocar seus ovos em outro terreiro. Compreenda, leitor, que estou falando aqui (por escrito) dos bons e velhos imóveis básicos, aqueles antigamente destinados a jovens promissores e irremediáveis remediados da classe média sofredora, emparedada entre a Vila Trindade e o Jardim Schaffer.
Agora, imagine uma rosa-dos-ventos centralizada na Catedral, vá em direção a qualquer ponto cardeal e em nenhum deles será rota segura para a fuga do aluguel. Confira os preços e, se não gostar, experimente reclamar com o arcebispo. Provavelmente ele dirá que é asim mesmo, que estão pedindo cento e oitenta mil por qualquer terreno para construir novas igrejinhas. Um papa no assunto já profetizou que, neste ritmo frenético, em cerca de dois anos o preço dos imóveis em Curitiba estará pau a pau com São Paulo e Rio de Janeiro, mesmo que aqui (que eu saiba – agora fiquei inseguro) não exista FIESP, Copacabana ou bacias petrolíferas.
Que equação esotérica explica esta desvairada bolha imobiliária em uma cidade onde os projetos de futuro estão com os dois pés no freio e os existentes patinam, quando não estão largando na banguela para economizar combustível? Não sei dizer. Quem sabe eu só conviva com a banda fracassada dos empreendedores curitibanos e esteja contaminado pelas suas lamúrias. Pois alguém, em algum lugar da cidade, deve estar ganhando dinheiro a rodo, contratando gente de penca e pagando salários altos o suficiente para sustentar a súbita inflação que assanha os felizes proprietários de qualquer coisa por aqui. Neste caso, se você, como eu, ainda não tem onde cair morto, é bom ir pensando em trocar de amigos, melhorar suas relações, atravessar a calçada e candidatar-se a participante desta avassaladora onda de prosperidade.
Outra possibilidade é que a dinheirama estratosférica que elevou às estrelas o nosso mercado imobiliário tenha origem nebulosa. Conspiração? Pode até ser. Imagine só: numa dessas a gente não sabe, mas Curitiba foi escolhida para os investimentos subterrâneos de narcotraficantes multinacionais, políticos da cueca preta, empresários zoológicos, funcionários fraudadores, manos do PCC e mafiosos de variada extração (isso até sugere um novo tema para embalar o nosso marketing: Curitiba – Capital da Lavagem). Neste caso, pare de reclamar do valor do IPTU ou do aumento do ITBI, faça-se de morto e tenha fé no amanhã. Afinal, já disse o Stanislaw Ponte Preta, na voz da inesquecível Tia Zulmira: ou todos nos locupletemos, ou restaure-se a moralidade. Frase que podemos atualizar para: suruba nacional – ou organizem ou me convidem. Também quero morar. Estou aberto a propostas, desde que dentro daquele patamar mínimo de R$ 180 mil que combinamos no início da conversa. E sem alugação. Morou?
Linguajar norte paranaense não é só data…
Inté…
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