Entrei no Buraco da Véia e fiquei conversando com o alemão. Por gestos. Sou analfabeto principalmente em português. O Buraco é uma piscina natural do tamanho de cinco jacuzzis. Fica no litoral baiano, perto de onde Bel tem uma mansão/estúdio do tamanho da Casa Branca. Bel era o líder do Chiclete com Banana. Por que pensei nisso? Porque lembrei da Baixa do Sapateiro e meu amigo entrando num boteco mais sórdido do que aquele do conto do Veríssimo. Não lembram? Cachorros sarnentos puxados para dentro e um Cristo com tapa-olho – na verdade uma barata esmagada. O chapa mandou pra dentro linguiças boiando em líquido escuro e pedaços de galinha num molho de cabidela que mais parecia óleo de motor cansado. Era o prazer dele, além de fumar. Tempos depois, numa noite de calor abafado, ele foi dormir na rede da varanda do sobrado e, sob a brisa do mar, partiu para sempre. O Buraco de Véia é mágico. Acho que o chamou para lá, mesmo porque é próximo da casa. Da próxima vez que entrar nele é bem possível que, ao mergulhar, eu veja o Ubirani, grande ser que foi antes.