No recurso ao Supremo contra seu afastamento do mandato, o senador Aécio Neves argumenta que “não é um servidor qualquer”. De fato. O ‘servidor qualquer’ desonesto surrupia o grampeador da repartição, pede um ‘agrado’ para destrancar o processo e sofre os rigores da lei. O ‘servidor qualquer’ não pede R$ 2 mi para o dono do frigorífico. O ‘servidor qualquer’ não manda o primo apanhar a primeira parcela, de R$ 500 mil. O ‘servidor qualquer’ não tem a solidariedade e o apoio do partido político, dos governadores de seu partido, dos senadores de todos os partidos. É que o ‘servidor qualquer’ é um qualquer.
Um senador, ex-governador, ex-presidente da câmara federal, presidente de partido e ex-candidato a presidente não é um servidor qualquer. É um ‘qualquer’, sem dúvida, igual aos quaisquer de sua estirpe e natureza, os que o protegem e acobertam. Não é servidor, porque não serve a ninguém, só a si mesmo. Ao argumentar que não é um ‘servidor qualquer’, Aécio quer tratamento diferente dos servidores quaisquer. Quer o tratamento que entende adequado a seus iguais, os que não são qualquer – a saber, todos os que o protegem e com ele são solidários.
Sem dúvida, Aécio não é um qualquer. Ele é o que há de mais representativo e ilustre na elite política brasileira. Ele é qualquer coisa diferente, qualquer coisa especial, ele é distinto e distinguível de todos os quaisquer que recebem tratamento legal e institucional rigoroso: são os quaisquer que não valem nada e de nós, quaisquer inúteis e abúlicos que elegemos e sustentamos Aécio e os quaisquer de seu gênero, os patifes da república. Isto vale para Aécio e quaisquer de seu gênero, nacionais, estaduais e municipais. (Rogério Distéfano)