Estacionei o carro velho. Na frente, uma tela e, do outro lado, um terreno com árvores replantadas. Começou a chover. Liguei o limpador de para-brisa e vi lá um número: 54. Nem me toquei. Fiz o que tinha de fazer, voltei pra casa e, no início da noite, ao levantar a persiana do escritório cuja janela dá de frente para a rua, a luz amarela do poste em frente acendeu neste exato momento. Achei que era um sinal. Estava necessitando de algo assim, uma coincidência para juntar o que perdi lá atrás com alguma coisa para encontrar logo ali adiante. Foi então que lembrei da plaquinha de fundo branca com o número em preto. Aleluia! O ano do meu nascimento no século passado! Uma onda de euforia tomou conta. Claro que inventei a estreia no mundo com a luz surgindo para ser guia. Fui pra rua. Fiquei bem embaixo daquela luminária. Chovia muito. Um carro parou ao lado. Alguém perguntou se eu estava com problema. Respondi que estava. O carro arrancou. Ainda vi o carona fazer para o motorista o famoso gesto de girar o indicador na altura da têmpora. Louco de felicidade fiquei.