Marcelo Rezende era um excepcional repórter e dono de um texto onde a informação vinha revestida de, vamos lá, poesia, cinema. Esqueçam o apresentador do Cidade Alerta – aquilo era uma representação, mas que lhe deu muito dinheiro e uma fama que começou na Globo. O que conheci, como companheiro da revista Placar, é o que me marcou. Estivemos uma vez juntos, numa reportagem em que ele rodou o país e revelou os “Podres Poderes” do futebol brasileiro – e ele veio para Curitiba depois de receber o material levantado pelo signatário. Na conversa informal e nas entrevistas, dava para sentir o seu poder – de persuasão e investigativo. Era suave, mas incisivo. Conseguia sempre o que queria. Na lembrança da pessoa, ficou a imagem dele pilotando uma moto pela orla do seu Rio de Janeiro – sempre na madrugada silenciosa. Na lembrança do jornalista, na abertura de um longo perfil que fez de Renan Dal Zotto, então a maior estrela do voleibol brasileiro, a descrição do som de uma bola batendo várias vezes numa parede. Era o jogador treinando sozinho – e daí vinha toda uma história de vida contada como sinfomia. Marcelão, apelidado de “tela cheia” por alguns mais venenosos, era, na verdade, um jornalista de mão cheia. Amém.