6:59Candidatos generalistas

Por Ivan Schmidt 

A impressão está cada vez mais forte e penso que partilhada por grande número de leitores. Refiro-me ao pleito de 2018, em particular à sucessão estadual que vai revelar aos paranaenses no primeiro ou segundo turnos o nome do sucessor do atual governador Beto Richa.

No que me consta, nunca nas últimas décadas uma campanha sucessória começou tão cedo, sendo que pelo menos um dos pré-candidatos, a vice-governadora Cida Borghetti, não teve o menor impedimento ético ou moral em alardear, já nos primeiros dias do quatriênio 2015-2018, a intenção de disputar o governo.

E desde então, a vice-governadora jamais perdeu uma só oportunidade para reafirmar a decisão de ser candidata ao cargo máximo no estado. Uma das facetas mais relevantes dessa empreitada político-familiar deu-se no casamento da filha do casal Cida-Ricardo Barros – a deputada estadual Maria Victória – quando o progenitor arrancou do bestunto um arremedo de explicação para os absurdos apupos ocorridos no Largo da Ordem, local escolhido para a celebração, primeiro na igreja próxima e depois nos salões da Sociedade Garibaldi, incluindo a chuva de ovos que fez a alegria dos vendedores de guarda-chuvas (vai a dez!).

Pois o atual ministro da Saúde do governo Temer, deitou falação argumentando que os protestos no casamento da filha se deveram às recorrentes declarações de Cida (a última feita pouco antes) de que definitivamente será candidata ao governo do Estado em 2018.

Segundo o ministro, que na condição de deputado federal sempre teve atuação destacada na bancada suprapartidária de apoio aos governos Lula e Dilma (para não falar de FHC), cuja indiscutível submissão deve ter influenciado a indicação para o ministério de Temer, “grupos de esquerda” aproveitaram para demonstrar contrariedade ao anúncio corroborado pela vice-governadora, embora o raciocínio bizarro não se referisse à passividade de tantos anos da dita oposição, que jamais deu um pio sobre a veleidade sucessória da vice-governadora.

Num ritmo que deve aumentar o nível da tensão nos próximos meses, a mais recente jogada no tabuleiro, foi o afastamento do deputado Ratinho Jr da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e a volta à Assembleia Legislativa, onde é líder da maior bancada de deputados.

Eleito com extraordinária votação em 2014, tanto que ajudou a eleger vários colegas de legenda, Ratinho afirmou que está de volta ao parlamento para cuidar melhor de sua movimentação como pré-candidato ao governo do Paraná. Como ainda é muito cedo, Ratinho se limitou à menção de um “projeto inovador” para o Paraná, mas nada acrescentou de objetivo sobre a gestão que pretende imprimir a partir de 1º de janeiro de 2019, caso eleito.

Aliás, a rigor, o pensamento político do ex-secretário (que disputou também a prefeitura de Curitiba e perdeu) ainda é desconhecido pelo eleitor, que até agora tem apenas informações genéricas sobre as boas intenções e platitudes que costumeiramente povoam o discurso de qualquer dos candidatos.

Contudo, é perfeitamente lógico almejar que na fase da pré-candidatura, Ratinho aproveite bem o tempo que antecede o lançamento da campanha propriamente dita, para cercar-se de uma equipe multidisciplinar e muito competente para traçar as linhas mestras de um programa de ação verdadeiramente destinado a resolver alguns gargalos que persistem no cenário estadual, de modo especial nos setores da educação, saúde e segurança pública.

O futuro governador do Paraná, o raciocínio é o mesmo para qualquer que for eleito, terá ainda o encargo de enfrentar – entre outras obrigações — o pesado custo das universidades estaduais, a falta de oportunidades de emprego para milhares de jovens que todos os anos se apresentam a um mercado cada vez mais inerte, mediante indispensáveis e iluminados projetos inovadores e sustentáveis. Aí está o calcanhar de Aquiles.

Cida, Ratinho Jr e Osmar Dias são os nomes de maior evidência para porfiar no bom sentido pela governança do estado. Deve-se considerar, porém, o calculado mutismo do governador Beto Richa quanto aos rumos políticos que segundo ele somente será anunciado no momento oportuno.

As especulações alimentadas pelo comportamento do chefe do Executivo e seu entorno, dão alento à tese de que a propalada renúncia ao cargo e a candidatura ao Senado são incógnitas no mapa político somente conhecido pelo próprio, que como uma esfinge deixa em profunda expectativa os pré-candidatos mais próximos (Cida e Ratinho), exatamente os que anseiam o apoio irrestrito e decisivo do ocupante do Palácio Iguaçu, ansiando vê-lo na cumeeira de uma das chapas que disputará uma das duas vagas para o Senado.

É óbvio que ambos os pré-candidatos vão gastar toda a força do latim a seu alcance para que Beto decida apoiar exatamente a sua campanha. Cida será a maior  prejudicada no seu projeto político, caso o governador resolva permanecer no cargo, vendo-se impedida de utilizar a caneta sentada na principal cadeira do palácio. Ainda assim, ela garante que será candidata.

O fato complicador, a meu juízo, mesmo com a situação desconfortável do PSDB em todos os sentidos, e diante das dificuldades para identificar um nome que empolgue a opinião pública, é a virtual a presença de um candidato tucano na eleição para o governo.

Ante a situação clamorosa que o partido vive no plano nacional, e a escassez de líderes reconhecidos na província, somente muita abnegação ou vocação para kamicase poderiam gestar essa candidatura, para muitos analistas reservada ao fracasso. Quem viver verá.

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