Rogério Distéfano
Faz diferença?
Em agosto completou-se um ano do impeachment de Dilma. Ou do golpe, como denuncia o PT na anti-comemoração. Foi golpe? Claro que sim. Faz diferença? Claro que não. Faria diferença caso Dilma imitasse Getúlio e se antecipasse ao golpe. Mas seria demais para um petista. O suicídio político pressupõe o senso e a dimensão da tragédia histórica.
Ave, Lula, cheio de graça
O Supremo suspendeu o julgamento da questão do ensino religioso nas escolas. Aquilo de um país que se afirma laico na Constituição permitir aulas de religião para as crianças. No Brasil é tudo meio indefinido. O país é laico mas tem crucifixo nas repartições públicas, principalmente em salas de audiência e plenários do Judiciário. Judeu, muçulmano, budista, xintoísta e ateu chegam nesses lugares com os dedos em figa. E não há tribunal que mande tirar Jesus Cristo da parede.
O ensino religioso entrou na escola pública desde que o PT chegou ao poder. Em sua maioria o professorado no ensino fundamental é petista. Dos radicais, que acendem uma vela para Lula e outra para Dilma. De vez em quando um deles leva petelecos de aluno, como a companheira Márcia Friggi, de Santa Catarina. O aluno com dois parafusos frouxos bateu nela. Não justifica bater em professor, a não ser na assembleia legislativa do Paraná. Mas a tia ensinava tanta barbaridade que o aluno encarnou um Bolsonaro.
Quebranto
“A farsa montada para o afastamento definitivo de Dilma… A deposição de Dilma Rousseff foi o ponto de partida da estratégia entreguista do consórcio golpista… Nessa tresloucada tentativa de vender o Brasil a qualquer custo…”
As têtes de chapitre – eu queria oferecer perfume francês, mas ela gastaria com Lula no Nordeste; então vão as palavras francesas – as cabeças dos parágrafos do release da presidente do PT no aniversário da destituição de Dilma Rousseff. Os cinco parágrafos de oito linhas amontoam o jargão petista da dor de cotovelo. Frases feitas, batidas e rebatidas. Moído e remoído, o manifesto de Gleisi Hoffmann reduz-se à volátil e imperceptível essência de um pum de borboleta no torvelinho do tornado.
Impossível ignorar Gleisi. Ainda que fale bobagem, arme barraco, pague mico, ela consegue ser uma força da natureza. Não é substantiva, falta-lhe substância. Mesmo assim não passa despercebida. Por pouco não encarno um Mário Quintana para plagiar os versos a Cecília Meirelles: “Senhora, eu vos amo tanto/ Que até por vosso marido/ Me dá um certo quebranto”. Melhor não, alguém pode ter chegado. E o marido Paulo Bernardo já tem quebranto que chegue.