Vi o assassinato. Minha turma de colégio se reuniu para ir até aquela metalúrgica que jogava fora os martelos que não ficavam de acordo com o figurino. O amontoado ficava nos fundos da fábrica, mas teríamos de atravessar um pequeno córrego para chegar lá. O medo era de tudo. Na rua que levava ao ápice da aventura, de repente vimos um menino correndo e um homem atrás, à meia distância. Ele não falou nada – apenas mirou e atirou. O garoto caiu sobre o meio-fio. O homem saiu rápido da cena e nosso pavor aumentou ao extremo. Na nossa ação, poderíamos levar tiros também? Passamos ao lado da vítima. Ele agonizava. Cabeça estourada pela bala certeira. Continuamos. Tudo embaralhado na mente e na alma. Coração na boca.
Atravessamos o riozinho. Não havia nada para levar. Voltamos para nossas casas por outro caminho. O menino respirando com dificuldade, com o rosto voltado para o céu, me acompanha até hoje.
Na trilha encantada não vejo mais meus fantasmas,estariam eles embrenhados na neblina ou são meus olhos cansados de ver.