por Célio Heitor Guimarães
Devia ser proibido tirarem as ilusões da gente. Algumas são perniciosas, é bem verdade, fazem mal à saúde, como o uso das drogas, incluindo as bebidas e o cigarro, ou acreditar em farsantes como Lula da Silva, FHC, Beto Richa, Greca de Macedo, Bolsonaro, Aécio Neves, Gilmar Mendes e assemelhados.
Outras, nem tanto. Ao contrário, fazem-nos bem. De que vale a vida sem uma fantasia? Um devaneio ou uma quimera? Nunca vou esquecer o dia em que meu filho, então com uns cinco ou seis anos de idade, chegou da escola e foi direto conferir comigo: “Pai, é verdade que Papai Noel não existe?” Tomado de surpresa, mas fiel ao compromisso de só lhe dizer a verdade, estupidamente respondi: “É”. Ele ainda fez uma derradeira tentativa: “E o coelhinho da Páscoa, também não?” Nova confirmação idiota. Até hoje atormenta-me a decepção expressa no rosto do meu pequeno Carlos Eduardo.
Outro risco corrido por mim foi o de perder a amizade de um querido amigo quando lhe informei que as aparições de Fátima, em Portugal, nos idos de 1917 (como a de Lourdes, em 1858, e as demais aparições marianas), não passaram de manifestações ufológicas, conforme narrado no livro de Joaquim Fernandes e Fina D’Armada. Devoto fervoroso de N. S. de Fátima, ele se mostrou ofendido e fui obrigado a reformular o dito para manter o amigo.
Também eu tenho as minhas ilusões. Já tive muitas mais, mas perdi a grande parte no curso da vida. Restaram-me algumas poucas. Uma delas refere-se ao chamado “Triângulo das Bermudas”, área de 1,1 milhões de quilômetros quadrados, localizada entre as Ilhas Bermudas, Porto Rico, Forte Lauderdale (Flórida) e as Bahamas, no oceano Atlântico. Desde 1945, estima-se que mais de duas centenas de desaparecimentos de barcos e aeronaves aconteceram ali, sem explicação, mas há registros de ocorrências anteriores. O tema atrai jornalistas, autoridades, escritores, físicos, químicos, meteorologistas, ufologistas e curiosos, como o acima assinado. Todo mundo já deu palpite, mas até agora ninguém resolveu nada.
O que se sabe é que coisas estranhas ocorrem no local: bússolas giram sem parar, o céu fica nublado de repente, estranha e densa nebulosidade se faz presente e as comunicações de rádio tornam-se distorcidas e incompreensíveis. Em seguida, navios, lanchas, barcos e aeronaves (ou seus tripulantes) somem do mapa. Já surgiram teses de anomalias no campo magnético do planeta, de nuvens hexagonais e da presença de bolhas de gás metano. Todo mundo busca os seus 15 minutos de fama.
O mais recente elucidador do mistério chama-se Karl Kruszelnicki e é tido como “renomado cientista australiano”. Pois o sábio Karl concluiu que os desaparecimentos da área não têm nada de anormal, posto que a quantidade de ocorrências ali “é exatamente a mesma de qualquer outro lugar do mundo.
Não tenho notícia de tamanha incidência de sumiços inexplicáveis em qualquer outro local da Terra nem disso nos dá notícia as enciclopédias, o google e o youtube. Talvez, em bem menor escala, no chamado “Triângulo de Formosa” ou “Triângulo do Dragão” ou “Mar do Diabo”, no Pacífico, próximo à ilha de Miyaka, a 100 km do sul de Tóquio, no Japão. Mas, como eu sempre posso estar mal informado, gostaria que o doutor Kruszelnicki me explicasse dois episódios. Dois apenas, das centenas:
O primeiro, datado de 1840, ocorrido com a embarcação comercial francesa Rosalie, que tinha como destino Havana, em Cuba. Rosalie não desapareceu, mas foi encontrada à deriva com suas velas içadas e a sua carga intacta, mas sem nenhum tripulante ou passageiro a bordo. Ninguém soube esclarecer o sumiço.
O segundo, quando as autoridades cubanas avistaram, em 15 de maio de 2015, um navio perto de zona militar restrita, a oeste de Havana. Após tentativas frustradas de comunicação, três barcos da patrulha marítima cubana interceptaram a embarcação. Aí, com enorme surpresa, descobriram que o navio, identificado como Coropaxi, na verdade tinha quase cem anos de idade e desaparecera em dezembro de 1925. Nenhum sinal de vida ou morte a bordo. Encontrou-se apenas o diário do capitão, com registros até 01 de dezembro de 1925. Soube-se também que o S.S. Coropaxi partira de Charleston, Carolina do Sul, EUA, em 29 de novembro de 1925 e se dirigia para Havana, Cuba. Tinha uma tripulação de 32 homens, sob o comando do capitão W.J. Meyer e estava levando uma carga de 2.300 toneladas de carvão. Depois disso, desapareceu, sem deixar nenhuma notícia. Até maio de 2015.
Ah, sim! Há também o depoimento de “sobreviventes”, como o piloto americano Chuck Wakeley, profissional de aviões e helicópteros: “Em 1964, ao passar por Andros, uma força eletrônica tomou conta de meu avião por um tempo. Vi um brilho leve nas asas, que foi aumentando até dificultar a minha visão. Aí, um brilho muito forte praticamente me cegou e não pude mais ver os instrumentos. As asas pareciam cobertas de penugem. A bússola girava, o piloto automático forçou uma curva para a direita e o tanque permanecia no cheio. Então, após uns cinco minutos, o brilho se foi e os controles começaram a funcionar de novo”.
O que teria a dizer sobre isso o douto estudioso australiano Karl Kruszelnicki?
Esse brilho que o piloto viu não seria nosso governador reluzente dando uma esticada costumeira/???????????